terça-feira, 17 de novembro de 2020

BENDITA AO FRUTO NOS CAMINHOS DO INFERNO MASCULINO

Gostava dos tempos em que, encerrada a votação e eleitos os que tiveram mais votos, a vida seguia. Vitoriosos comemorando como se tivessem conquistado medalha de ouro nas olimpíadas. Perdedores em casa fazendo contas para tomar susto com os prejuízos.

E a vida seguia...

Hoje, com as redes sociais mudou tudo. Já na campanha somos bombardeados por candidatos que nunca vimos e nem sabíamos de suas existências. Eu mesmo recebi mais de 50 mensagens de gente se aventurando a uma cadeira na Câmara. Fora as solicitações de amizade no Face que passaram dos limites. Amizades relâmpago na tentativa de levar meu simples “votinho”. É quase como aquela garota bonitona que no começo da noite de sábado desfila sensual pela Rua XV procurando uma vítima para dela arrancar uma roupa, uma bijuteria, um perfume e até um jantar. Pensa que é balela? Havia uma em Curitiba lá nos anos 90 que era mestre na arte. Ela te olhava, sorria, rebolava e ia se chegando como gato safado. Daí o desavisado achava que estava abafando e que iria ter, de repente, uma noite de amor para extravasar todo e qualquer desejo.  Muitos Curitiba à fora caíram na rede da pescadora que, depois da compra de um agrado, o jantar ou lanche, achava um pretexto para se mandar. E assim, muitos Dons Juans ficaram chupando o dedo e depois foram para casa quebrar ladrilhos...

No caso da solicitação de amizade “relâmpago” a vantagem é que não tem encontro pessoal e nem presentinho. Depois, encerrado o pleito, aquele “amigo” nunca mais vai interagir com você. Pelo menos nos próximos quatro anos...

Que dizer então das lamúrias?Uma choradeira com potencial de cachoeira se instalou e não há lençol que dê conta para trazer uma conformidade mais rápida. Ela virá; com certeza que virá...

Agradecimentos pelo apoio, depoimentos de toda ordem pelas escolhas mal feitas pelo eleitorado e até desejos maquiavélicos para que os eleitos venham a quebrar a cara. Talvez assim, lá adiante, a derrota de hoje venha a ter o sabor de uma vitória cuja competição se traduz em sempre torcer contra para que dali se possa tirar algum proveito.

Alguns dos “mesmos” permanecem e isto contraria muita gente que, em análise de bate pronto acham que não fizeram nada e não mereciam a reeleição. Vai ser sempre assim!...

O que faltou foi mulher. Só uma ficará bendita ao fruto entre os homens. Mas ela é Fátima Sebastiana de Paula, tem nome de santa e, em assim sendo, acredito que vai saber conduzir seus passos por entre os caminhos do inferno masculino. No pleito em si, mulher fica lá fora. Continuamos a ter um clube do bolinha nos anais da política. Ah! Mas a prefeita eleita é mulher!

Pois então; fico cá divagando o que leva um contingente de eleitores a escolher uma prefeita e não abrir as portas da Câmara para  mais vereadoras. Tanta mulher capaz se candidatou e ficou de fora enquanto tantos homens que se acham capazes foram eleitos. 

Eles agradecem prontamente. Inclusive ao eleitorado feminino!


-Pedro Brasil Júnior – 17/11/2020


sexta-feira, 13 de novembro de 2020

DECIFRANDO CARTEIRAS

Acredito que o termo correto fosse “mobiliário escolar”, mas desde o primeiro dia na escola o nome era “carteira escolar” e a ordem era explícita: Não pode riscar a carteira!

Foi numa dessas carteiras que jamais consegui enfiar no bolso que dei os primeiros passos rumo ao conhecimento. Algumas dessas carteiras eram próprias para duplas de alunos, mas descobriram que em dois era mais fácil colar durante as provas. Então elas passaram a ser individuais e assim, aquele tampo onde não era permitido riscar era, ao longo do ano e devido aos três turnos escolares, transformado numa espécie de “rede social” de tempos idos.

Eu juro que gostaria de ter guardado a sete chaves uma dessas carteiras onde fiz bom uso e é claro; também deixei minhas marcas em interessantes rabiscos, porque ela continha ali um verdadeiro hieróglifo que só descendentes ao acaso de um tal de Champollion seriam capazes de decifrar assim como fez o famoso francês que decifrou a Pedra de Roseta.

Naquele tampo havia pedaços de tabuada e outras colas providenciais além é claro, de algumas declarações oriundas das primeiras descobertas a respeito do amor. Também havia desenhos variados que misturados ao longo do tempo, em alguns casos, lembravam códigos da passagem de vorazes aprendizes.

As carteiras enfileiradas na sala de aula muitas vezes lembravam os avanços dos peões num jogo de xadrez. Dependendo dos movimentos que alguns faziam no recinto a professora providencialmente os trocava de lugar. Assim, em várias carteiras ficaram as marcas de um bom numero de rebeldes e faladores, inclusive as desse escriba cuja caderneta de recado aos pais volta e meia era preenchida a fim de que, em casa, a gente ganhasse o devido corretivo. Por muito pouco escapei de ser um sósia do Mickey Mouse, mas se escapei das orelhas enormes do ratinho famoso, fiquei mais próximo do Gargamel, aquele caçador de Smurfs.

Carteiras escolares na verdade foram, cada uma há seu tempo, barquinhos sólidos nos quais a gente passou a navegar pelos mares do conhecimento. Muitos se tornaram eternos grumetes e outros chegaram a almirante ou comodoro. Como adoro lembrar aqueles tempos onde, de guarda-pó branco não éramos simples alunos; tínhamos um pouco de enfermeiros das palavras que nós mesmos feriamos com escrita ou pronuncia errada. Pena que naqueles tempos não nos permitiam saber uma verdade incontestável: é errando que se aprende. Eram tempos em que tínhamos a obrigação de apenas acertar, de aprender na marra, de copiar cem vezes no caderno frases do tipo “eu sou capaz de aprender”, numa espécie de manivela que faria o cérebro pegar no tranco.

Tudo passou – a escola, as carteiras, os amores platônicos, a cartilha, o livreto com a tabuada, os livros, os cadernos, a régua, a borracha, os lápis, canetas e os folguedos da hora do recreio, não sem antes provar uma deliciosa sopa ou chocolate quente e também mingau de aveia.

Viriam tempos depois outras carteiras – agora possíveis de carregar no bolso – a identidade, a habilitação, a do trabalho  e carteira apropriada para se carregar o que sempre é mais difícil conseguir: o dinheiro!


 Pedro Brasil Júnior – 13/11/20

quinta-feira, 29 de outubro de 2020

FANTASMAS ARRASTAM CORRENTES NO GRANDE CASTELO

Quando menino os velhos do meu tempo ganhavam o rótulo já aos 45 ou 50 anos. Quando esta idade chegava, lembro muito bem, ouvia-se aquelas pessoas dizer que “a partir daqui, o que vier é lucro”.

Recordo que também havia pessoas lá com seus 60, 70,80 e até algumas com 90 anos e muita gente com a língua afiada dizia que “eles já haviam morrido e tinham esquecido de enterrá-los”.

Quanta maldade na visão daquela gente de outrora que nos obrigava a respeitar os mais velhos sob todas as formas. Mas a maioria não tinha o mesmo respeito. Era aquela coisa do “faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço”.

Décadas dispararam em nossa existência e os idosos passaram a ganhar rótulos a partir dos 60 ou 70 anos com muitos por ai chegando ao centenário e com toda lucidez. Mas continuam sendo assustadores fantasmas em meio ao circo dos horrores de uma sociedade cada vez mais alucinada e hipócrita.

No meu tempo de guri eu olhava os idosos e ficava muitas vezes pensando como seria viver numa carcaça abalada pelo reumatismo e outros tantos males. Pois bem; acabei chegando à condição que hoje se transformou em “melhor idade” por questões educativas cuja finalidade é acabar com o preconceito contra os “estorvos” que a cada dia aumentam em número na nossa terra. São tantos hoje que governantes sem escrúpulos tem a capacidade de cuspir em discursos enfadonhos que os idosos são os responsáveis pelo caos econômico e assim, tivemos um Temer com a cara de pau de dizer que as pessoas vão viver 140 anos e, portanto, podem se aposentar aos 74 anos. E agora mais recente, o homem eleito pela massa, em plena pandemia foi aniquilando com os benefícios a que todo idoso tem direito e torcendo, conforme até um ministro de sua laia teve coragem de afirmar, que seria bom que os idosos morressem para que se pudesse salvar a economia.

Olhando esses senhores do “poder sujo e maquiavélico” fico pensando a respeito do que preenche seus cérebros e seus corações, porque já estão também capengando pela idade que avança, mas possuem a sordidez de fazer pouco caso àqueles que, cada um a seu modo, depositou suas energias no trabalho, gerando riquezas, movimentando o comércio e a indústria e é claro; pagando esse turbilhão de impostos aos quais somos vítimas de uma espécie de escravismo que beneficia apenas aos que assumem seus cargos e inventam para si os auxílios mais absurdos e caríssimos para que todos nós paguemos e ainda os exaltemos como autoridades.

Velhos, idosos, portadores da melhor idade, recebendo a maioria aposentadorias medíocres, com atendimento médico precário e sem acesso a medicamentos. Enquanto isto o Estado, representado hoje por uma classe de sanguessugas segue capengando em blá blá blá sem que as soluções devidas possam ser convertidas em verdades e benefícios à brava gente velha brasileira.

Nós, essa legião de fantasmas, seguimos por ai, cada um arrastando suas correntes em meio a esse majestoso castelo chamado Brasil onde se produz tanta comida e muitos padecem de fome, onde temos grandes bacias hidrográficas e muitos padecem pela seca e onde todos tem esperança de tempos melhores, mas esses tempos nunca chegam. Campanhas vão e vêm, as promessas ridículas são as mesmas e os caras de pau ocupam suas cadeiras já pensando em reeleição. E hoje, o mote de muitos cínicos é “cuidar das pessoas”, “estar na linha de frente”, mas cá entre nós, quem deles cuida de quem? Quem deles na guerra vai à linha de frente para levar o primeiro tiro? Francamente, essa gente mesquinha nunca respeitou, não respeitam e jamais vão respeitar os idosos da nossa terra. E a prova maior está em evidência neste momento em que começam a mexer os pauzinhos para privatizar o SUS(***) . O SUS é tudo o que ainda nos resta e, se privatizado for, tenha certeza de que você ficará velho, sem assistência e morrerá à míngua em meio a esta terra de ninguém. Agora; quando a velhice os acolher na imensa rede, muitos vão mudar de religião, vão abraçar uma Bíblia com todas as forças restantes na tentativa de reduzir a cobrança dos céus, da Divina Providência. Mas daí, os portais do inferno estarão escancarados à sua espera...

 - Pedro Brasil Júnior – 29/10/2020 -

(***) Lembrando que para privatizar o SUS será preciso mexer na Constituição Federal. É por isto que já andam falando em nova Constituinte.

segunda-feira, 19 de outubro de 2020

QUANDO DEUS FALA COM A GENTE

 


Escrevi hoje bem cedo essas três linhas:


“Bem-Te-Vi no parapeito da janela

Espiou, não viu nada, se foi...

Bem que eu Te Vi !”

Veio do nada e eu nem tinha visto ou ouvido um Bem-Te-Vi.

Mas ali por perto do meio-dia eis que surge a pouco mais de um metro este belo exemplar de Bem-Te-Vi.

Ficou ali tranquilo, imponente e fazendo poses para as fotos.

Bem que Te Vi e captei este instante mágico.

Bem que na Alma a mensagem se completou.

Porque Deus tem maneiras especiais de falar com a gente...


- Pedro Brasil Júnior - 18/10/2018-

O ABRAÇO DO TAMANDUÁ

Livre e solto em seu habitat só tive a chance de ver um tamanduá uma única vez quando ainda menino. As pessoas de então diziam que era um bicho perigoso. Foram necessários muitos anos para que finalmente eu pudesse descobrir que não eram, necessariamente, tão perigosos assim. De uma beleza incrível, os tamanduás esmiúçam os cupinzeiros para se alimentar e dão um toque especial a qualquer cenário dito selvagem. Nestes tempos de fogaréu ali pelo Pantanal sabemos que muitas espécies sucumbiram e muitos exemplares da fauna foram salvos por pessoas decididas a esta tarefa tão importante e complicada. São pessoas que empunham a bandeira da preservação e vão à luta, mesmo expondo-se às ameaças do fogo ou até mesmo a ataques de animais peçonhentos.

Assim, deparo neste universo da internet com um vídeo feito lá naquelas bandas onde um jovem caminha sendo seguido por um tamanduá. Ele resgatou o animal com seu filhote e agora, adotados, mãe e bebê não desgrudam do rapaz e dos seus cuidados. Carinho e dedicação aliados ao respeito integram sim as ditas feras à fera maior que pode se transformar um homem. Aquele jovem empunhou a bandeira da bondade e da consciência ecológica e a mamãe tamanduá com seu filhote nas costas sabe que ali está segura para perpetuar sua espécie já tão ameaçada.

A natureza nos tem ofertado tantos exemplos, mas ainda assim a ganância e o desrespeito do homem se fazem mais fortes a ponto de aniquilar imensas áreas em detrimento dos altos lucros através do agronegócio. O mundo precisa de alimentos, mas a alma humana precisa de muito mais.

Então eu fico com o abraço do tamanduá e empunho a sua bandeira em defesa da proteção das nossas matas e de todos os nossos “bichos perigosos” cuja capacidade de fera se rende ao homem num pedido de socorro jamais pensado.


-Pedro Brasil Jr – 19/10/2020 -

quarta-feira, 14 de outubro de 2020

QUERO MEU LUGAR NO QUEIJO

Campanha política é coisa invulgar porque na visão da maioria dos candidatos o objetivo é aquela cadeira onde se exerce o cargo para o qual se foi eleito. Para chegar ao queijo e suas delícias existem as regras do jogo e, como em todo jogo, sempre existem os que tentam burlar, usando dos mais criativos artifícios e, em sendo assim, despertando a ira nos concorrentes que ficam atentos a toda ação que porventura venha a infringir a regra da disputa. Enquanto a campanha dispara, as pesquisas vão revelando preferências e o contingente de candidatos vai criando suas estratégias, o eleitor, aquele que escolhe o seu representante, recebe os santinhos e nem se arrisca a rezar. Pior é que a maioria dos eleitores deixa para escolher alguém às vésperas da eleição e muitos até no dia quando, sem muita opção, escolhem aleatoriamente alguém ou votam em branco ou anulam seu voto, coisa que não é boa para a democracia.

O queijo está lá à espera dos que chegarem à frente, tal qual na concepção de cada indivíduo cujo espermatozoide ganhou a corrida e lhe deu direito à vida. Da mesma maneira, creio eu, em se tendo direito à vida pelo mérito da “vitória” que na disputa aos cargos eletivos, os que forem agraciados com maioria de votos que deixem de focar na cadeira, nos salários e nas vantagens e que observem a real função e que façam valer seus projetos, dentro de todos os parâmetros, a fim de que a cidade, seja ela qual for, possa ganhar todas as melhorias necessárias em detrimento de uma qualidade de vida melhor para sua gente. Sim; o queijo é convidativo, mas o eleitor precisa, antes do pleito, analisar seus candidatos, ver seus projetos, olhar a cidade onde vive como ela se encontra para ver se realmente as propostas dos candidatos do momento são possíveis, melhores do que a atual administração vem realizando e se muitas dessas propostas/promessas podem ser realizadas com recursos do próprio município. Do contrário; o queijo poderá ser maravilhoso para muitos, mas o eleitor é quem acabará topando com a armadilha fatal. Vote consciente, analise e não se deixe levar pelos “mi mi mis” da campanha. Não se esqueça daquela máxima antiga que diz: “muitos se fingem de morto para faturar o coveiro”. É o nosso país, é a nossa cultura eleitoreira. Tá na hora de mudar, mas é preciso ter consciência, discernimento e participação ativa ao votar e depois, para fazer a devidas e justas cobranças.

quinta-feira, 1 de outubro de 2020

APRENDIZES DO VIVER

Envelheci e nem percebi que, durante a dança do tempo, foram ocorrendo mutações em meu ser.

Então envelheci sorrateiro como aquele vinho esquecido no armário ou como aquelas fotos de tempos idos que aderiram a um tom amarelo, dando o alerta de que é inevitável segurar esse alazão que atravessa o espaço sempre imponente, sempre ávido em sua mensagem, sempre disposto a nos dizer que nada no Universo tem parada. É preciso ir em frente todos os dias, ainda que muitos fiquem questionando qual é o destino.

Simplesmente o conhecimento e a experiência que são pequenas estações para onde nosso trem azul segue esfumaçando a paisagem, recolhendo ao longo da jornada aqueles entes queridos, aqueles amigos que estranhamente surgiram em outras paradas e que juntos, a cada trecho, celebram as alegrias e dividem as tristezas.  Mas de repente, alguns vão descendo antes, nos deixando naquele vagão que ao longo da viagem vai ficando vazio e se enchendo de saudades.

Ah! Mas eu nem lembro que cheguei a essa tal de “melhor idade” até porque, desde que me conheço por gente, sempre vivi a melhor idade, fosse na infância entre os folguedos e artimanhas de menino, fosse na adolescência preparando o coração para o amor e a construção de um novo tempo ou fosse na idade adulta onde se chega a estágios sérios, onde responsabilidade significa esforços dobrados e onde, é claro; a gente de fato e de direito sente um peso diferente, porque os músculos já não atendem como nos tempos do futebol ou das pedaladas numa bike. Tempo onde o cansaço surge do nada e a gente olha para o sofá e diz: “Velhinho, dá licença, mas preciso de um cochilo!” – Daí a gente acorda reanimado e segue pelo dia esquecendo-se da idade e indo fazer coisas que já não são tão apropriadas como na juventude. E daí? Eu me sinto jovem e por isto, vou pintar a parede, fazer uma pipa, limpar a calçada, passear com os cachorros e fazer um turismo pelas ruas ao meu redor. Mas, sobretudo, a idade que avança tem uma magia toda própria, porque através do tempo a gente aprendeu de tudo um pouco, a trancos e solavancos e se chega a esse estágio dotado de vivência, visão ampla a respeito da vida e de tudo o que nos cerca. Então a gente tenta passar um tanto disso aos jovens, mas eles, pelo menos esta geração de hoje, me parece que nasceram antes da gente e preferem pagar para ver o que acontece. Entrou em moda o “dá nada!” e depois que dá tudo a quem eles apelam? Desde sempre, desde as primeiras tribos, os mais velhos eram e continuam a ser os melhores conselheiros, porque velhice significa experiência e conhecimento e somente com essas duas características é que a gente pode se tornar velho, com espírito jovem e certos de que viver é muito mais do que uma dádiva, é o compromisso de vir, fazer e sentir a satisfação de ter cumprido, ainda que em parte, a sua missão.

E me permito “roubar” aqui um pouco da inspiração do Caetano Veloso que naquele tão distante 1979 escreveu:

“Eu vi o menino brincando/ Eu vi o tempo/ Brincando ao redor do caminho daquele menino. /Eu pus os meus pés no riacho/E acho que nunca os tirei...”

Então, que “Força Estranha” é esta que rege nossa existência?Eu um dia também pus os meus pés no riacho e sigo com eles molhados, sentindo o frescor da água cristalina, ouvindo a doce canção da corredeira e percebendo sim que a Vida é amiga da Arte e que é preciso saber viver tentando compreender que nada mais se é do que um integrante de todo o cenário. “Eu vi muitos cabelos brancos na fronte do artista /O tempo não para, no entanto ele nunca envelhece.”

Que sejamos eternamente jovens em nossas mentes, que saibamos envelhecer e aceitar as mudanças e, sobretudo; que saibamos o tempo todo, interagir com a magnitude da vida, com a grandiosidade do planeta, com o infinito Universo e com a dádiva de ter vindo não para ser “mais um”, mas para ser um eterno aprendiz do viver.

- Pedro Brasil Júnior – 01/10/2020



terça-feira, 22 de setembro de 2020

CAMINHANDO SOBRE O TAPETE DAS FLORES DO IPÊ

Quando se é escritor, ainda que por presunção, a gente comete alguns erros que são, na verdade, motivados pela inspiração daquele momento mágico, tão único quanto ao instante em que se tira uma foto por ai.

O primeiro deles é a gramática, que a gente pisoteia para desespero daqueles que a levam com uma seriedade sem limites. Mas para este erro há sempre a possibilidade de todas as devidas correções e ajustes. Já para o outro, não temos como dar uma mexidinha, porque muitas vezes se fazem necessários. São as repetitividades de cenas ou causos já relatados em outra crônica ou outro conto. Em sendo assim, é verdade que num dia qualquer e bem distante eu já tenha falado sobre a maravilha dos Ipês Amarelos cujos tapetes de suas flores enfeitam muitas calçadas pela cidade. Mas outrora esses tapetes eram em maior quantidade e, portanto, muito mais marcantes.

Hoje, último dia do inverno desse 2020 que foi e segue sendo um ano gelado, porque todos nós entramos numa fria digna de pinguins, deparo com um comentário curtinho de uma amiga de longa data, a Célia Cesar que lá elogiou uma postagem  que fiz sobre o Dia da Árvore e onde ela diz : “ Não sei o que dizer... Só sei que esta chegando a temporada dos Ipês e eu me lembro de você”.

Uma forma sutil de lembrar-se da gente cuja distância é imensa e que também, nunca nos conhecemos pessoalmente. Nossa amizade começou na época do já extinto Orkut e onde havia; minha memória falha um pouco, um portal dedicado me parece aos Altares. Por lá chegavam em suas canoas pessoas maravilhosas e com ideias magníficas para compartilhar com quem de repente estivesse em busca de um bálsamo para encarar os desafios da existência. A grande verdade é que daqueles Altares onde cada um levava sua oração, nasceram importantes amizades e digo sempre a todos os amigos lá feitos que cada um teve sim um papel importante para que a gente pudesse olhar o mundo com outros olhos. O portal dos Altares se foi, mas os “monges” continuam por ai, cada um na sua, mas com algo em comum: A fé!

E os Ipês Amarelos? Ah! Que árvores majestosas que simbolizam a nossa terra, nos dão a sombra, o colorido, mas não oferecem frutos. Pelo menos “não” na categoria do palpável e comestivo, trazendo o sublime néctar do coração da terra. Mas seus frutos vão além-alma e nos levam por uma espécie de jovialidade, um tipo de fonte da juventude que banha nosso olhar com o amarelo das flores e o verde de suas folhas. E então, esses “frutos” tão estranhos abrem o coração da gente e levam até ele a essência mais pura que ajuda a gente a ter inspiração de escriba, força de vontade de professor, carisma de apresentador de rádio ou televisão, preceitos de pura fé em religiosos de todas as ordens e a pureza tão singela de toda e qualquer criança que chega a este mundo apenas para viver. Eles chegam à estação da vida sem falar nada, sem pensar nada, sem empunhar bandeiras ideológicas, sem torcer para este ou aquele time, sem dar importância à raça, à religião ou a preferência sexual dos outros. Simplesmente nascem e chegam como a argila que se retira da barranca de um rio. O que os outros farão com ela é o que importa. Como vão moldar as pequenas e inocentes almas é que influenciará nos destinos do mundo.

Mas os Ipês Amarelos seguirão florindo a cada Primavera, estendendo seu tapete vistoso aos transeuntes, despertando olhares de paixão e escrevendo ali mesmo uma poesia que fala de amor, de transformação e que inclui até gente carrancuda que reclama que a arvore faz muita sujeira porque derruba aquelas flores todas e depois aquelas folhas todas até ficar peladinha. Então está ai mais um segredo dos Ipês que tanto amo. Aquelas árvores com nome masculino são dotadas de uma feminilidade tão incrível que nos proporcionam desfiles de cores e depois ensaios fotográficos de uma nudez que inspira acreditar que a alma da gente é bem assim; primeiro espalha cores de todas as nuanças e mais tarde se desnuda para nos mostrar a evolução. Mas claro; como não pensei nisso antes? Os Ipês Amarelos são borboletas com raízes que incitam a gente a fazer como a lagarta. Primeiro se rasteja, depois se mergulha num casulo e mais tarde se eclode em cores para singrar os céus e provar o quanto a vida é bela e “maravilinda”, como costuma dizer a amiga Célia a quem é claro, agradeço por ter sido hoje, motivadora dessa rápida inspiração, mas lembrando que nada é por acaso e que a gente, volta e meia dá um pulinho até o Altar para uma conversa com aquele “Cara” que é extremamente radical, correto e grande protetor de cada passo que a gente dá nesta caminhada por sobre os majestosos tapetes das flores do Ipê.


-Pedro Brasil Jr - 22/09/2020

quinta-feira, 3 de setembro de 2020

O RESGATE DA ENERGIA SOLAR QUASE AO FINAL DOS TEMPOS

Ainda nem haviam erigido a Torre Eifell em Paris quando, durante uma grande exposição um inventor e engenheiro americano então presente, demonstrava a sua magnífica invenção. Aliás; teria sido primordial para o destino da humanidade que poderia aqui chegar hoje sem essas ameaças monstruosas do aquecimento global.

Frank Shuman era o nome da cara que, durante aquele evento fez uma  incrível demonstração do poder da energia solar construindo um pequeno motor que funcionava ao refletir a energia solar  para caixas quadradas cheias de éter, que tem um ponto de ebulição mais baixo do que o da água, e era equipado internamente com tubulações pretas que por sua vez alimentavam um motor a vapor. Bem; ele fez uma mágica na ocasião quando, através do sistema serviu sorvetes para alguns presentes.  Mais para frente, entre 1912 e 1913, Frank Shuman construiu em Maadi, Egito, o que pode ser considerada a primeira usina solar. A ideia era irrigar o deserto com águas do Rio Nilo através de um sistema motriz movido pela energia solar. Pena que durante a Primeira Guerra Mundial o complexo fora totalmente destruído.

De lá para cá tivemos a virada de um século onde o uso dos combustíveis fósseis ganhou o mundo e assim, a poluição envolveu o planeta e dele o fez a maior vítima interferindo em vários segmentos de sua naturalidade. Como resultado, o aquecimento global que hoje afeta por demais as calotas polares. E somemos a isso tudo os desmatamentos por todas as partes, o uso de carvão vegetal e de uma gama de outras práticas nocivas criadas pelo homem com intuito de gerar lucros.

Agora, mais de cem anos depois da proeza do pioneiro Shuman, o mundo volta a olhar a energia solar com a grande saída para novos tempos, sem poluição, com energia renovável entregue a todos nós pelo astro rei.

Oras; que humanidade é a nossa onde os interesses financeiros se sobrepõem à própria existência? Seguimos ainda assim e eu lembro a quem interessar possa que, no nosso país, o nordeste sempre padeceu pela falta de água e de atenção governamental. Quando D. Pedro II criou o projeto da Transposição do Rio São Francisco ele tinha a magnífica visão de que era possível resguardar a região toda e, através dela produzir  muito através do trabalho da gente nordestina. Mas daí veio a Proclamação da República, o país ganhou outro rumo e o projeto da Transposição do São Francisco foi parar no fundo de algum baú.

Quando resgatado, décadas e mais décadas depois, não foi bem visto pelos interesses dos ditos abastados, aqueles que sempre desejaram e seguem desejando que os nordestinos se mandem para São Paulo, porque daí eles tem mão de obra barata, pouco importando se as favelas e a violência vão aumentar. Eles moram em palacetes e coberturas...

Meu caro Frank Shuman esteja você onde estiver saiba; seu pioneirismo chega ao reconhecimento mundial e é sim; a solução mais viável, não poluente e totalmente renovável. Mas saiba também meu caro, que todo aquele que tem uma ideia pratica, barata e sustentável ou é sumariamente abatido pelo poder da guerra ou então; passa a ser comunista. O que os ditos grandes querem sempre é o poder e o lucro. E salve o Sol.


- Pedro Brasil Júnior – 03/09/2020 –

segunda-feira, 31 de agosto de 2020

É AGRO, É POP, É PAULADA

Assustada com os preços dos alimentos básicos no supermercado minha filha?

Pois então; a inflação está sob controle. Sob controle remoto, porque realmente chegamos a um estágio insuportável para sobreviver num país onde o Agro é Pop e rende bilhões por ano. Felizes os bilionários que mantém o Agro sob seus controles.

Então você vai ao mercado em junho para fazer aquele famoso “rancho” e gasta 450 reais. Em julho você compra as mesmas coisas e gasta 520 pilas. Daí você decide fazer uns ajustes em sua lista de compras e encara agosto cheio de razão para fazer economia.  A paulada vai a 720 reais e lá no caixa você olha pra moça assustado e pergunta:

- Tem certeza que isso daí está certo?

Ela não precisa responder porque você bem que notou que os preços do arroz, do feijão, do trigo, do açúcar, do café, do óleo de soja e de toda a linha de hortifrutigranjeiros dispararam feito estouro de boiada. E da boiada eu nem quero falar sobre o preço da carne...

Ah! Mas o governo aumentou os impostos porque senão quebra. Não é verdade. A questão é que o governo quer arrancar de todas as formas possíveis o dinheiro destinado ao auxílio emergencial. Aqui é e sempre foi assim. Eles te dão com a mão esquerda e te tiram com a direita num piscar de olhos. Somem-se a isso os aumentos nas tarifas de energia elétrica e no consumo da água além é claro; de todos os demais impostos que dançam à nossa volta como se estivéssemos amarrados num tronco, rodeado pelo fogo com uma daquelas antigas tribos de antropófagos comemorando um suculento jantar. Sim; somos o jantar constante dessas víboras que, esfomeadas não nos dão folga. Eles tomam café da manhã, almoçam, fazem lanche e jantam com a gente diuturnamente e ainda arrotam uma estúpida sabedoria aliada a uma incompetência sem precedentes.

Eu aqui, diante do computador, às vezes viajo por estes confins da Internet na busca de verdades explícitas. E encontro legiões de descontentes com toda esta bazófia que nos assola. Não faço viagens sem um bom mapa, uma eficiente bussola e toda a devida programação a fim de se evitar dissabores. Em outras palavras, este cara aqui vai buscar comparativos entre governantes de outrora, alguns já no além e aqueles que estão ai gastando horrores do nosso dinheiro para se defender de suas falcatruas.

Então acabam com o país aproveitando a pandemia. Mas a pandemia é mundial e sabemos que muitos países, mesmo com a crise gerada, já estão prontos para dar a volta por cima sem que seja preciso sacrificar sua gente.

Isto acontece aqui na Terra do Pau Vermelho desde sempre exceto; num período de 13 anos em que, mesmo com os erros de praxe, este país ganhava as alturas e o respeito mundo afora. Podem cair de pau sobre este escriba, mas antes vão rebuscar tudo o que foi feito naqueles 13 anos em relação ao que jamais fora feito antes e muito menos depois.

Então, que paguemos o preço injusto pela escolha paquidérmica de uma maioria cega, inculta e que tiraram suas máscaras de ódio, homofobia, racismo e xenofobia para idolatrar o falastrão. Que paguemos todos juntos o preço da aceitação das notícias inventadas, da deturpação de irmãos brasileiros com sentimento patriótico e dispostos a colocar este gigante adormecido em seu devido lugar.

Paguemos, pois, pelo desemprego absurdo, pelo aumento das favelas, pelo aumento dos sem teto, pelo aumento dos tributos, pelo aumento do alimento que em muitas mesas nem escasso está mais porque não existe.

Paguemos o preço de nossa compra impensada ou de nossa aposta mal feita.

E vamos seguir no compasso divertido do país que é agro e sua gente padece de fome. Porque o agro é pop, o agro é tech, o agro é uma ilusão de Mandrake na terra da cartola vazia.


-Pedro Brasil Júnior – 31/08/2020

sexta-feira, 7 de agosto de 2020

UM LIVRO ESQUECIDO

Um dia, acidentalmente, esqueci um livro no balcão de uma lanchonete. Voltei ao local, mas o exemplar já havia partido com alguém. Bem; apesar da tristeza pela perda acabei, de certo modo contente por saber que alguém iria ler aquela obra. Ou talvez nem fosse ler, porque muita gente sabe “catar” coisas perdidas ou esquecidas para jogar em algum canto.

Os anos passaram, vieram outros livros, outras histórias e aventuras e grandes nomes da literatura que me ajudaram a aprender muito mais. Depois alguém inventou um interessante projeto do livro esquecido propositalmente, de maneira a incentivar a leitura. De alguma maneira o projeto até funcionou e deve ainda estar conquistando alguns leitores por ai.

Esses dias, depois de tanto tempo, decidi dar uma volta pelo centro de Curitiba com a pura visão de um turista, fotografando alguns lugares tão comuns de minha passagem ao longo dos anos e eis que de repente me deparo com a cena: um verdadeiro livro esquecido no banco da praça.

Não era um livro de papel em brochura e com capa grossa, colorida, chamativo a qualquer passante. Era um livro vivo, com incontáveis páginas repletas de passagens maravilhosas, tristes, angustiantes, sofridas, saudosistas e por ai afora...

Lá estava naquele meio de tarde o homem sentado em sua solidão dividida com os pombos que habitam a praça e ficam à espreita de alguém que derrube do pacote algumas pipocas.

Ali estava com ele e em sua figura uma verdadeira obra, o livro de sua vida, esquecido naquele banco, mas sem permitir que alguém o apanhasse para esmiuçar suas verdades, suas crises, suas dores, seus malabarismos para quem sabe manter uma família e até mesmo as poucas alegrias que possa ter tido lá na juventude.

Um livro velho e esquecido no banco da praça, muito longe de uma campanha , tão distante de todos os olhares que atravessam a praça.

É a lente e os olhos que observam o instante e o captam para sempre. Lá ficou o livro esquecido enquanto a tarde se esvaia. Lá ficaram com ele seus segredos, seus sonhos, seus desejos e suas decepções. E lá fui eu adiante divagando sobre esses livros vivos que atravessam as ruas e as praças, empastados, empacotados, apressados, correndo contra o tempo para chegar a uma estação que nunca aparece.

Somos sim livros que se movem e cujo teor escrevemos um pouco todos os dias, mas o tempo que é implacável em sua passagem é quem dirá, a cada um de nós, se iremos ocupar aquele espaço especial na estante ou ficar esquecido para sempre num desses bancos frios que pouco se importa se a tarde se esvai, se a noite cai e se o amanhecer trará um sol resplandescente uma uma chuva torrente. (Pedro Brasil Junior – 07/08/2017)


segunda-feira, 3 de agosto de 2020

DA TRAGÉDIA DE SER UM ANIMAL RACIONAL

Sou de um tempo quando, na Sexta-Feira Santa as pessoas ficavam reclusas em suas casas, na maior parte do tempo em silêncio e nem o rádio se ligava. Era um verdadeiro culto pela dor alheia, neste caso, pelo sofrimento do Cristo.
A Sexta-Feira Maior, como diziam os antigos, era um dia tão sagrado e santo que, acreditem; os ovos botados por galinhas naquele dia, se guardados fossem, em pouco tempo secavam o seu interior. Minha mãe tinha em casa alguns exemplares desses ovos e até hoje nunca consegui encontrar uma explicação científica para o fato. Ao que presumo, mais do que nunca, o poder do sagrado.
Então os anos foram avançando e os sentimentos mais profundos do ser humano se volatizaram e eis que, neste limiar do Século 21 no encontramos “mais ou menos isolados” pela pandemia, mas acima de tudo, e deixe a pandemia de lado, isolados pelos valores tão sublimes de outrora.
Adentramos num mundo ainda mais violento e segmentado por um ódio jamais visto e jamais praticado por tantos. Nunca e em tempo algum, se presenciou na civilização algo tão inusitado, que só se compara à selvageria daqueles tempos em que os homens ainda eram apenas e tão somente animais sangrentos.
Mas trocadas as gerações, a genética tem demonstrado que certos códigos passam de pai para filho e, sem os devidos cuidados, esses novos indivíduos ressurgem de uma espécie de treva para dissimular o ódio, a violência e saborear com deleite o gosto do sangue.
Nestes dias incrédulos que vivemos, com mais de mil óbitos diários em nossa terra por conta do vírus, presenciamos também um grande descaso por parte de uma legião que não está nem ai para a doença. Fruto do descaso que vem do alto poder, essa gente se diverte com a morte alheia e seguem sorridentes como se fosse uma legião de capetas descontrolados.
Então minha gente, num repente um acidente de proporções enormes e até desnecessário, e digo isto porque faltou à vigilância e as devidas ações, nos apresenta vítimas que ali na estrada ficaram, de certa maneira, expostas aos olhos alheios que com seus celulares filmaram e fotografaram com o simples intuito de mandar para frente as cenas horríveis da dor do outro.
Perdeu-se o respeito, o bom senso e a humanidade. Sorver o sangue alheio como um bando de vampiros que vivem na obscuridade e que desejam massificar esta dor do outro de toda maneira, sem um mínimo de consciência.


Quando eu ou outra pessoa surge falando em bom senso, em humanismo, em equidade, os outros já apanham seus tacapes e investem contra nosso pensamento e vontade de fazer um mundo melhor e mais justo.
Tivemos sim uma tragédia com muitas vítimas fatais e é certo que nesse instante temos outras “gentes” derrubando lágrimas pela dor da irreparável perda. Foi-se com os que perderam suas vidas de forma tão gratuita, os sonhos de toda uma vida e aqui deixam seus tesouros de gente querida que sempre os rodearam e que agora seguirão suas existências carregando o pesado fardo da dor.
Quando se deveria respeitar o cenário de dor e tragédia, legiões de corvos surgiram entre a fumaça para saciar sua sede de dor e de sangue, verdadeiros vampiros masoquistas que nesse instante estão à solta por ai enaltecendo a dor alheia.
E eu lhes digo sem pestanejar: O Cristo foi parar na Cruz não para salvar os homens. Ele foi para a Cruz, virou símbolo e dali regressou ao Pai apenas para lhe dizer que a raça humana é o pior dos animais que habita esta Terra. Acreditem; o Cristo que tantos aguardam retornar, certamente que já passou por aqui inúmeras vezes e, observando nossa medíocre evolução, voltou para casa antes de ganhar uma vez mais uma coroa de espinhos, as chibatadas de praxe e aqueles enormes pregos em seu frágil corpo.
O Cristo pede ainda ao Pai que nos perdoe, mas não porque “não sabemos o que fazemos”, mas porque temos ciência do que fazemos ao outro e consequentemente a Nós mesmos.

- Pedro Brasil Jr – 03/08/2020
 

sexta-feira, 31 de julho de 2020

PROGRAMA TATTI SHOW ESTREIA NESTE DOMINGO PELA REDE CNT DE TELEVISÃO

Com o intuito de divulgar a boa música em seus mais variados estilos, o Programa Tatti Show chega à telinha da Rede CNT com propostas audaciosas de esmiuçar o mundo artístico trazendo para seu conteúdo nomes já consagrados, relembrar com eles grandes sucessos e ainda revelar novos talentos que neste momento encaram os desafios da estrada. 


O programa visa às artes como um todo e desde já é uma grande opção para quem aprecia tudo o que diz respeito ao universo artístico que nos cerca.
Contando com um time de reportes espalhados pelas principais praças do país, o programa trará também matérias interessantes e diferenciadas do contexto comum, tudo para deixar o fim de noite de domingo muito animado. 


Apresentado por Tatti Alenncar o programa vem para aproximar um público que ela considera muito especial e desde já manda a todos aquele seu tradicional beijo com barulho que sempre é uma demonstração de carinho por todos que a seguem nesta atividade sempre desafiadora. 

Programa Tatti Show para todo o Brasil a partir deste  Domingo, 02/08 -  a meia noite pela Rede CNT

quarta-feira, 29 de julho de 2020

O CASTELO DE AREIA

Ao final do último verão ele teve uma ideia: colocar em prática aquele sonho antigo, ainda de menino – construir um castelo de areia enorme, com todos os merecidos detalhes. Escolheu ali na praia um lugar mais isolado, onde pudesse trabalhar em paz, longe dos olhos e da opinião de possíveis curiosos. Começou apanhando água do mar numa garrafa pet com o gargalo cortado e, em incontáveis idas e vindas foi molhando a areia e moldando sua construção. Entre uma latinha de cerveja e outra, com paciência jamais vista, foi erigindo sua obra de arte e, mesmo diante à dança dos ponteiros, não parou um minuto sem que chegasse à conclusão do seu feito. Curioso mesmo apenas a presença de uma gaivota que chegou por perto sorrateira, dando uma espiadela naquela maluquice humana. Depois alçou voo e pegou a distância...

Finalmente, depois de quase quatro horas, seu majestoso castelo estava concluído e desafiando as ondas que certamente, no adentrar da noite iriam invadir aquilo tudo com a mesma força de um exército devastador. Ao se posicionar em pé um pouco afastado, ele sacou do celular para fazer uma boa sequência de fotos e registrar como prova o seu talento de grande arquiteto.

Sabia que todo aquele esforço duraria pouco, mas tinha alguns aliados para o combate. Três siris emergiram de suas tocas na areia ali perto e adentraram a propriedade alheia sem cerimônias. Posicionaram-se entre as ameias daquela fortaleza tão frágil como se fossem soldados audaciosamente corajosos para enfrentar o suposto inimigo. Ele então tratou de registrar em fotos e deixou aqueles novos amigos em paz. Uma olhadela a mais e partiu deixando suas pegadas na areia quente. O verão se despedia em alto estilo e ele certamente que teria memórias fabulosas para encarar as estações vindouras.

De volta para casa em seu carro, às vezes imaginava aquele seu castelo imponente como se fosse o palco dessas histórias medievais que não dispensam os confrontos e os romances ávidos.


Mas também imaginava as pequenas ondas chegando com a maré alta e carregando sem misericórdia toda a sua obra que levara anos para tornar-se uma realidade de menino crescido, idade avançada e sonhos por inteiro.

Já em casa, transportou as fotos para o computador e tratou de dar nas mesmas uma melhorada usando os fantásticos recursos da tecnologia. Seus planos eram espalhar as fotos e mostrar seu grande feito nestas redes sociais que chegam tão distantes.

Surpresa maior quase o derrubou da cadeira. Ao entrar no universo que engloba pessoas de todas as partes envolvidas nos mais diferentes pensares eis que à sua frente surge a foto do seu castelo.

Mas como era possível? – Pensou consigo diante da tela.

Não havia curiosos e ninguém naquele trecho da praia. O entardecer já abraçava a noite. E ele também não havia enviado a foto para alguém.

Então observou uma vez mais com atenção afinal de contas; muita gente adora construir castelos na areia. Mas era o seu castelo, aquele que ficara guarnecido pelos seus amigos siris e que fazia sim certa diferença na paisagem.

Sob a foto então postada por um desconhecido havia um pequeno texto dizendo: “Se você já construiu castelos no ar, não tenha vergonha deles. Estão onde devem estar. Agora; dê-lhes alicerces.” (Henry David Thoreau) – E a pessoa complementava dizendo: “Eis o castelo que deixou as nuvens, os sonhos e se alicerçou bem aqui, desafiando a força e o poder do mar. Minhas vivas ao audacioso e criativo construtor. Seja lá quem você for, saiba, do fundo do coração que sua obra me encheu de emoção. Há mais de 50 anos, quando menino ainda, também construí um castelo assim e quando as ondas o destruíram eu chorei muito, a ponto das lágrimas deixarem marcas na areia ainda seca. Só anos mais tarde é que entendi como a gente constrói uma vida sólida à partir de sonhos tão simples.”

Então ele respirou fundo, os olhos marejados e o coração palpitando de alegria. Ele havia, finalmente, tocado uma alma distante e desconhecida por simplesmente ter regressado no tempo para não deixar no esquecimento o seu sonho tão singelo e tão grandioso.

- Pedro Brasil Jr – 29/07/2020 –



quarta-feira, 15 de julho de 2020

SEVERINO CONTINUA MAIS VIVO DO QUE PODEMOS IMAGINAR

Quando eu chegava a este mundo em 1956, João Cabral de Melo Neto acabara de lançar sua famosa obra “Morte e Vida Severina” que conta a trajetória e o sofrimento do itinerante Severino em busca de uma vida melhor na capital pernambucana. De sua jornada, muitas mortes e muita miséria enquanto a busca do seu grande sonho seguia sendo um eterno pesadelo.

Considerando que já lá se vão 64 anos desde que a obra foi publicada e que a busca dos “Severinos” por vida melhor nunca acaba, me pego aqui a pensar neste Brasil imenso, habitado por milhares de “quebra-galhos”, alusão feita àquele Severino interpretado pelo saudoso Paulo Silvino num famoso quadro de humor. O Severino de todas as partes continua sendo aquele sofredor aguerrido, capaz de trabalhar com qualquer coisa para dali tirar seu parco sustento. Mas o Severino de todas as partes, a maioria que só sabe assinar o nome e escrever algumas palavras, carrega consigo hoje um CPF e um RG que podem lhe garantir um desses benefícios governamentais que neste atual governo não passam de uma esmola para se criar vadios. Ora; o Severino desse tempo pandêmico carrega, além da eterna esperança de ser digno à existência o seu título de eleitor, passaporte para a tão esperada vida melhor, numa casinha com certo conforto, com energia elétrica e água encanada, um televisor para o entretenimento e é claro; comida no armário.

Severinos e Severinas atravessaram distâncias por eles inimagináveis ao longo dessas décadas enquanto eu por aqui crescia tendo uma infância feliz, bem alimentado, com direito à instrução e total acesso ao conhecimento em todas as suas áreas. Cresci um tanto alheio à triste realidade de nossa gente “Severina” tão sofrida, tão explorada, tão pisoteada pelas classes abastadas de uma sociedade hipócrita onde o “outro” em seus andrajos deploráveis passa de mendigo a um perigo iminente que urra feito fera com ecos que retumbam do interior das favelas.


Quando atingi uma idade plausível para a compreensão da nossa realidade pífia levei um susto ao descobrir um país imenso, dotado de uma riqueza inesgotável e onde, a exemplo da visão do Manuel Bandeira, passava a observar “um homem na lata de lixo”, aquele “Bicho” esfomeado nos assombrando a alma como um fantasma vivo.

Então tivemos a fase do “É isso ai, Bicho!”, e nem lembrávamos daquele “Bicho humano” esmiuçando o lixo para comer, para ter a chance de rastejar um pouco mais. E aquilo, para aquele “Bicho” era tudo o que restava. Os restos de uma sociedade humana tão desumana.

A Jovem Guarda passou e deu lugar a nossa Velha Guarda repleta de memórias maravilhosas de um tempo em que se falava muito, mas frente a frente. De um tempo em que um abraço era fraternal e verdadeiro e onde o romantismo era uma eterna poesia. Mas o poetinha Vinicius havia dado o aviso: “Que seja eterno enquanto dure”. E não valia apenas para os relacionamentos amorosos homem-mulher. Valia para o amor sobre todos e sobre todas as coisas...

Então um belo dia, a exemplo do Big Bang, houve uma explosão e de repente esta terra começou a nos dar uma esperança verdadeira. A quase certeza de que os sofredores Severinos dessa terra imensa e desigual iriam entrar em extinção. Seria a primeira e única extinção de espécie que faria meu coração saltitar de alegria.

De repente saímos do mapa da fome, reduzimos a mortalidade infantil, melhoramos nossa posição em variados índices sociais e tudo dava a impressão que o respeito conquistado lá fora definitivamente nos impulsionaria de sexta economia para, quem sabe? – terceira ou segunda. Era uma realidade que finalmente pisoteava o que sempre fora, ao longo de cinco séculos, uma utopia e nada mais.

Mas outra explosão estava prestes a acontecer e de repente nossas esperanças sucumbiram vitimas da hipocrisia, do sarcasmo e da total falta de dignidade por parte de facções diretivas sem escrúpulos e capazes de tudo para amealhar o poder. E como cantava o Moraes Moreira: “Lá vai o Brasil descendo a ladeira”.

Só que enquanto descemos a ladeira quem passa por nós na tentativa de subir? – Os Severinos então esquecidos. Como uma legião de zumbis desses filmes de terror, eles saíram do chão aflitos, esfomeados outra vez, maltrapilhos, sem destino, sem esperança de sobreviver nesta terra rica que a eles oferece apenas e tão somente a dor, a fome, o lixo e a salinidade de suas lágrimas que escorrem pela face apenas como tentativa de uma nascente do rio da esperança que jamais atinge a grandeza do oceano.

Então me bate ao portão o homem esquálido, roupas esfarrapadas, um ameaço de chinelo no pé, barba comprida, olhos profundos, silhueta de um magro verdadeiro.

-Moço! Pode me arrumar um trocado? Estou sem comer a dois dias...

Prontamente lhe estendo uma cédula de 20 reais. Os olhos brilharam tal qual o de um mineiro que encontra o diamante mais valioso.

- Como é seu nome? Pergunto rapidinho.

- Severino!

E veio de onde Severino?

-Ah! Seu moço venho de tão longe que nem sei mais como voltar e se tivesse que voltar, não iria de jeito algum. Sabe? –prosseguiu ele – tenho muitas histórias e nenhum livro. Mas fome já é costume, cadeia já encarei por vadiagem, trabalho desde a roça até a construção de prédio. Mas sempre assim, pedindo aqui e ali e perambulando igual cachorro abandonado.

-Espere um pouco Severino.

Então voltei com uma calça, uma camiseta, um par de meias e um calçado, tudo meio calculado a olho. Felicidade foi ali. Felicidade de um sorriso franco como há tempos não via.

- Seu moço! O senhor é um anjo!

Que nada Severino, nem asas eu tenho.

-Mas o senhor tem a dádiva de me enxergar como gente. E isto já me basta.

E lá se foi pela rua aquele Severino surpreendente que de tão longe veio e que para tão longe irá, presumo eu.

Então uma voz lá na alma me indagou:

-Já pensou se fosse o próprio Cristo?

Pensei sim. E se era o próprio, creio que fiquei com suas bênçãos. De resto, que a esperança não nos abandone e que o tempo possa esculpir em nossa pura gente um coração ainda mais forte para que juntos, unidos por uma causa justa, possamos cantar: “Lá vai o Brasil subindo a ladeira.”


-Pedro Brasil Júnior - 14/07/2020 -


quarta-feira, 8 de julho de 2020

QUE ANO ?

Tenho visto muita gente clamar para que este 2020 termine logo. A maioria já não aguenta tanta desgraça e acredita que, de repente; basta jogar aquele calendário ali da parede no lixo e tudo se resolve. Isto me faz lembrar todas as viradas de ano quando, as pessoas desejam adentrar ao novo com aquele frenesi contagiante que as leva a sonhar com dias melhores, mais produtivos, mais saudáveis e mais ricos também. E o que seria mais um ano além daquela fenomenal volta do planeta em torno do sol? O Universo é mágico em seu sincronismo, mas nós, ínfimos grãos de areia por aqui dispersos, estamos alheios até mesmo aos valores da própria existência. Se bem lembro apenas um homem teve a capacidade de carregar sua própria cruz, nela ser pregado e, antes de um ultimo suspiro, teve a capacidade de pedir ao Pai o seu perdão aos que promoveram toda aquela maldade. E desde então a maldade nunca teve um freio, um fim. E chega-se agora não a um destino insólito, mas a um entroncamento que visa despertar nosso bom senso. 

As desgraças todas não surgiram aleatórias porque sempre tiveram e seguem tendo nossas próprias ações. Queremos um mundo melhor, mas seguimos destruindo a própria casa, como se de repente, por causa de um rato, a gente ateasse fogo na casa só para matá-lo. Sutil ignorância num mundo esfacelado pela desigualdade e pelo descaso. Já perdermos o rótulo de humanidade faz tempo. O trocamos por facções inúmeras, cada uma delas, em seu ponto de origem, envoltas em seus próprios e mesquinhos interesses. Então seria melhor levar este 2020 à guilhotina e pronto! – Cabeça de um lado e corpo do outro e tudo estaria resolvido. O admirável mundo novo teria início, mas infectado por todos os defeitos humanos que hoje se destacam em todos os pontos. E a visão é tão anacrônica que a maioria que almeja o final antecipado do ano nem se dá conta que todos os dias, milhares de pessoas encerram o ano com o final de suas vidas. É mesquinhez sobre a incapacidade de avançar, se proteger e ser protegido; de respeitar e ser respeitado; de se unir para a construção do melhor. Enquanto uma parte seguir puxando a brasa para a sua sardinha seguiremos na mesma condição de patéticos sobreviventes do caos ético e moral. Que o ano encerre quando a Terra perfizer seu trajeto, nesta elipse misteriosa de milhões de anos alheios aos relógios e aos nossos mais distintos costumes. Afora isto, o ano; cada ano – nada mais são do que os reflexos dos nossos passos sobre o gigantesco espelho da existência. 

 -Pedro Brasil Jr – 07/07/2020

quinta-feira, 18 de junho de 2020

PEGA NA MENTIRA E COLA UMA VERDADE CHINESA

Era para ter postado ontem, mas os palitos de fósforos não resistiram à pressão do sono. Então... é textão, mas se você tem um tempinho, fico grato!

 Pense numa quarta-feira repleta de afazeres como há meses não acontecia. Longe da outra casa há mais de dois meses, eis-me aqui neste cantinho diante do computador mandando ver nas tarefas à distância e vez ou outra dando uma deslizada por estas redes sociais que andam parecendo um daqueles vidros grandes de picles onde a gente encontra todos os sabores. Uns mais suaves e outros quase intragáveis como aquela pimenta dedo de moça que conseguiu se juntar à turma. Bem; fazia tempinho que seis e meia da manhã não me pegava pulando da cama e neste dia tive que ceder aos caprichos do relógio e iniciar o dia como manda o figurino antigo. Foi uma manhã agitada porque de repente, ainda que eu não necessite de tamanho sacrifício, tenho gente na família que num estalar de dedos precisaram se deslocar aos seus locais de trabalho. Então dei uma de Uber-Familia e fui de um lado para outro numa conexão entre São José dos Pinhais – Pinhais – Curitiba e de volta à São José devidamente mascarado no melhor estilo daquele zorro cavaleiro cortando distâncias em seu poderoso Silver. E as horas se esvaíram como as areias da ampulheta e eu, de volta ao aconchego só tive tempo de tomar um fôlego e partir para as atividades de praxe. Mesmo à distância, o prazer de se fazer o que se gosta é maravilhoso. Mas devo confessar que nestes deslizes pelo facebook ouvindo o saudoso Emílio Santiago dei uma pausa para divagar sobre as coisas que nos cercam, as pessoas que nos cercam, suas ideias, seus ideais e de outra facção, infelizmente, sua indomável ignorância. De repente me peguei olhando o vazio como se fosse um espelho animado me mostrando toda a trajetória que já fiz, a quantidade de livros que já li e sigo lendo, as canções e artistas tão bem selecionados, o convívio com gente bem à frente do meu conhecimento e com quem tive a honra de aprender. Foram muitos esses degraus para que eu pudesse ter a chance de olhar as nuvens por cima, com aqueles raios do sol infiltrando-se e promovendo um colorido fascinante e divino. Então voltei a escorregar as postagens do face e fui vendo de soslaio coisas como o “fim do mundo” anunciado pelo calendário Maia e já programado para a semana que vem. Acho que diante ao exposto vou ter que fazer o que nunca fiz: tomar um porre literalmente. Depois não me contive perante o “pesadelo do Covid” que segue aniquilando sonhos de norte a sul diante da indiferença de tanta gente. Já nem adentro aos alertas, porque quando faço isto já me sinto como placa de trânsito à beira de rodovia alertando para o limite de velocidade e, no entanto, a maioria aperta o pé para ver a roleta da sorte escolher uma nova vítima. E se o trânsito é uma guerra famigerada, imaginem a guerra biológica que muitos insistem em exaltar neste momento em ninguém mais sabe ao certo como conter o vírus e pior; como conter a volúpia de humanos dispostos a tudo para encarar um shopping ou uma festa de arromba. Mas em meio a isso tudo a gente descobre coisas deliciosas que os outros preparam em casa, como uma torta de matar a gente afogado ou aquelas rosquinhas da Jujú sapecadas em açúcar que bem convidam àquele café com leite. Ah! As rosquinhas da Jujú...


E as mentiras então? Tem tanta mentira por ali que se o Pinóquio tivesse a chance de acessar por certo que seu nariz iria daqui até os confins da Ásia. Eu nem vou relacionar as mentiras e nem tampouco os mentirosos que as espalham e que nelas acreditam com unhas e dentes. O que me surpreende é ver onde as pessoas conseguiram chegar a bordo desse gigantesco trem fantasma que lhes permite, me parece, fazer de tudo para destruir os sonhos daqueles que acreditam em um mundo melhor. Fico pasmo perante tanta gente odiosa, mal amada, recalcada, prepotente, racista, homofóbica e muitos destes, para deixar o quadro borrado de vez, com requintes de fascismo escancarado. Lembrei-me do Erasmo Carlos cantando lá no passado aquela canção “Pega Na Mentira” lançada em 1981 e que apesar da sátira era sim um esboço dessa coisa que vivemos hoje. Alguém inventa uma mentira e um batalhão de tapados acredita e passa adiante. Daí a calamidade cultural, social e política. E agora, chegando o cuco nas 23 horas eu continuo aqui com raros palitos de fósforos tentando segurar as pálpebras para enganar o sono e o cansaço. Mas querem mesmo saber? Hoje fiz apenas um turismo “the flash” pelas redes e concluo que realmente estamos, aqueles que tentam edificar uma vida concreta”, falando uns para os outros o que todos entre si bem sabem. Porque o resto não está nem ai para verdades que podem ajudar a melhorar o jeito de viver, de subir os degraus da existência, de requisitar através do conhecimento os direitos que todos temos e que hoje são pisoteados como baratas tontas. Daqui a pouco é quinta-feira outra vez e certamente que nos telejornais vão mostrar a China, de onde o vírus tomou o rumo mundial e muitos seguirão caindo de pau nos chineses porque comem morcego, escorpião, cobra, rato e os cambaus. Triste ignorância da nossa gente aqui que nunca se embrenhou pela real história do povo chinês num passado onde um cidadão considerado rico era o que tinha em casa uma simples garrafa térmica. Mas isto não importa porque a maioria dessa gente compra tudo que lá produzem por uma tal de Wish e se deliciam com as novidades tão práticas como uma banheira que você, depois do banho pode desmontar, comprimir e acredite, guardar numa gaveta. Fico aqui então com a “Verdade Chinesa” na voz do grande Emílio Santiago de onde trago pra você este pedacinho que é a mais pura verdade: “Senta, se acomoda, à vontade, tá em casa Toma um copo, dá um tempo, que a tristeza vai passar Deixa, pra amanhã tem muito tempo O que vale é o sentimento E o amor que a gente tem no coração” – Se conhecer a canção já sabe a letra, se não conhece; por favor, vá ao youtube e curta o clipe. Além da música e do talento que Emílio Santiago tinha você vai comprovar o quanto detínhamos de majestoso em nossa arte e em nossa cultura. Porque o resto, é doce ilusão, é mentira escandalosa. 
( Pedro Brasil Jr – em 17/06/2020 )

terça-feira, 28 de abril de 2020

NASCE O 50º FILHOTE DE HARPIA NO REFÚGIO BIOLÓGICO DA USINA DE ITAIPU

Sucesso do Programa de Reprodução permite o envio de espécimes para outras instituições; um casal será levado para a França no próximo mês. 

 O Refúgio Biológico Bela Vista, da Itaipu Binacional, na fronteira do Brasil com o Paraguai, registrou no último domingo (26) a chegada do 50º filhote do Programa de Reprodução de Harpias (Harpia harpyja), mantido pela usina. O nascimento do bebê harpia consolida a iniciativa como o maior programa de reprodução em cativeiro da ave símbolo do Paraná no mundo. Para o diretor de Coordenação, Luiz Carbonell, essa é mais uma grande conquista da Itaipu, que é referência em vários projetos e ações sociambientais.
Foto : Alexandre Marchetti/ ItaipuBinacional

 “Logo essa ave estará ajudando em outros programas de reprodução no planeta, o que para nós é motivo de grande orgulho”, diz Carbonell. O filhote tem apenas 89 gramas. Por causa de seu pequeno porte, ainda não é possível determinar se é fêmea ou macho. “O recém-nascido foi tirado do ninho no dia 27 de abril, mas, devido ao seu tamanho e comportamento, acreditamos que o ovo tenha eclodido no domingo, dia 26”, explicou o biólogo da Divisão de Áreas Protegidas da Itaipu Marcos de Oliveira, especialista no manejo de aves de rapina. O pai do filhote é o primeiro macho nascido no RBV, em 2009. A mãe veio do Parque Zoobotânico Vale, no Pará, em 2014. Eles formam um dos seis casais reprodutores do plantel, que conta, atualmente, com 36 aves. “Nosso programa é o único no mundo que mantém uma reprodução continuada da espécie. Em outras instituições, há dois ou três nascimentos, mas não é mantida a reprodução de forma constante”, explica Marcos. 

Foto: Refúgio Bela Vista/ItaipuBinacional

 Exportação
 A taxa de sobrevivência de filhotes, que fica em torno de 80%, permite que o Programa de Reprodução de Harpias da Itaipu seja um fornecedor de espécimes para várias instituições ambientais. A próxima doação será de um casal que será enviado ao ZooParc Beauval, na cidade de Saint-Aignan, na França. A Itaipu aguarda os resultados de alguns testes sanitários para que as aves embarquem para a Europa, o que deve acontecer no próximo mês. As duas aves que serão enviadas para a França são consideradas “de segunda geração”: são filhotes de aves nascidas no Refúgio. “Para exportação de animais silvestres nativos, é permitido somente o envio de animais de segunda geração. É uma estratégia para manter conservado o material genético no seu país de origem, porém, permite a participação de outras instituições em programas integrados de conservação da espécie”, explica Marcos. 
 Natureza 
 O objetivo, num futuro próximo, é devolver as aves nascidas em cativeiro à natureza. “Já temos animais com idade compatível para entrar em um programa de soltura”, explica Oliveira. “É preciso finalizar o processo, criar um recinto no meio da floresta, longe do contato humano, colocar presas vivas para as aves caçarem.” Segundo ele, as aves precisam estar expostas a situações naturais, como procura de comida ou a falta de proteção contra a chuva e do sol. O Programa já está em contato com outras instituições para encontrar locais onde seriam feitas estas solturas.

quinta-feira, 13 de fevereiro de 2020

SER HONESTO, DIRETO E VERDADEIRO TE ISOLA DO MUNDO

Passo a maior parte das horas de cada dia sozinho. Não por opção de escolha, mas porque tanto eu quanto os demais integrantes da casa tem lá seus compromissos. Ficar sozinho portanto, não é a mesma coisa que estar sozinho, muito embora isso tudo se pareça e tenha algo em comum. Também carrego no meu “chip” desde muito antigamente essa coisa de estar isolado, não porque não goste das pessoas, mas por uma seleção tipicamente natural que me faz, de bate pronto, enxergar a aura do outro e num relance tenho comigo uma espécie de ficha completa da pessoa. Verdade que as vezes me engano, mas isto é culpa dessa coisa chamada benevolência. Em suma; descobri que não se pode ser muito bom e nem bom o tempo todo. É preciso fazer escolhas para expor a atitude da bondade, do contrário, os outros vão achar que você é um bobo, um ingênuo. Voltando à aparente solidão de cada dia, passo minhas manhãs em pequenas atividades em casa e vez ou outra saio para resolver um problema ali no banco ou para comprar algo necessário. As vezes pego os cachorros e vamos dar uma passeada pelas ruas do bairro... Quando venho ao trabalho, me instalo numa sala de tamanho razoável. 
Ficamos ali eu e meu computador. Tem um aparelho de tevê, mas raramente eu ligo. Então tudo o que preciso desenvolver é feito numa ótima atmosfera de silêncio, o que permite maior atenção a todos os dados envolvidos. Vez ou outra aparece alguém para fazer uma pergunta ou pedir alguma coisa. Só isto! Quando me dirijo ao refeitório já é meio tarde, a maioria já devorou quase tudo e então eu me alojo numa mesinha, prato feito, copo de suco e ali mastigo sossegadamente tudo aquilo enquanto os pensamentos viajam na distância. As vezes coloco em dia parte da minha agenda e noutras fico imaginando possibilidades de dar uma melhorada em alguns setores da vida, mas por ora, nada a reclamar. As vezes esta aparente solidão na hora do rango é quebrada com a chegada de algum colega atrasado. Então temos um rápido diálogo e por fim, cada um para seu canto. Quando venho para o trabalho e quando volto para casa é sempre sozinho. Na verdade é eu e meu carro, meu abençoado carro que, dentro da sua simplicidade, tem a capacidade de me levar e me trazer com certo conforto. Ah! O rádio é ligado, mas trata-se de um pen drive com minhas música favoritas. Esses trajetos com trilha sonora são o bálsamo para a alma, para a inspiração que até a mim surpreende muitas vezes. Então deparo com um estudo que diz que, se você é capaz de ser 100% honesto, há uma alta possibilidade de você ser deixado sozinho e sem amigos. E isto porque existem pessoas, como é o meu caso, que sempre dizem o que pensam e sentem, que as tornam honestas e diretas, e tal atitude nem sempre é bem recebida por todos, mesmo a gente acreditando ser isto uma virtude. Não me surpreende nem um pouco afinal; vivemos tempos sombrios onde honestidade, transparência e confiabilidade são apenas palavras bonitas impressas no dicionário. O tal estudo diz ainda que as pessoas diretas, que preferem a verdade, acabam sempre isoladas e não seria diferente, até porque a maioria das pessoas querem que você lhes diga o que elas querem ouvir e dai; quando você as contraria dizendo a verdade, elas o eliminam da sua agenda. 
Em sendo assim, não é muito legal a gente ser sincero, porque a sinceridade( outra palavra bonita lá no dicionário) é uma faca de dois gumes e por causa dela, a gente fica sozinho. Uma ocasião estava eu na Rua das Flores em Curitiba no final do ano, época em que se realiza aquele magnífico coral com as crianças. Na época ainda era o Coral do Bamerindus (o original) e eu fiquei ali entre umas 5 mil pessoas, eu acho, assistindo o espetáculo e deixando rodar na cabeça um filme sobre a própria existência. Ao término do show, aquela gente toda começou a se movimentar entre lágrimas, sorrisos, abraços essas coisas todas que mais expressam entre as pessoas o desejo de encontrar a si mesmas. E eu ali, encostado num poste observando aquilo tudo e em total silêncio. Não havia um conhecido e nenhum estranho estaria disposto a falar com outro estranho encostado no poste para evitar que ele de repente viesse a cair. Eu lhes digo de coração aberto: naquele dia eu fiz a maior descoberta da minha vida. Eu descobri que eu precisava e portanto, preciso até hoje e para sempre, estar em companhia do sujeito mais legal que já nasceu: eu mesmo! E os outros? Quem são os outros? O que desejam os outros? Os outros vêm depois. Eles têm importância na nossa vida, principalmente os mais próximos. Mas, sem egoísmo, primeiro a gente, porque tanto eu quanto você, que somos únicos, lembrado somos pelos “outros” quando precisam de alguma coisa. E o mais triste é que quando a gente parte, e eu já vi de perto exemplos, as lembranças vão ficando escassas, as fotos vão saindo sutilmente da estante e muitas das coisas que se tinha vão partindo para outras mãos ou para o lixo mesmo. Então, estou me lixando para a solidão, para o isolamento, para o descontentamento por parte de pessoas que não aceitam a realidade. Veja bem; eu disse REALIDADE, porque da VERDADE nem eu sou sou dono. Cada dia que nasce eu vou à escola, eu aprendo lições novas, eu analiso, eu esmiúço e então eu faço conclusões acertadas. As vezes algumas pessoas me perguntam como é que eu consigo levar a vida numa boa, não engordar, dar boas gargalhadas, manter as finanças em dia, essas coisas. 
Não tem como ofertar uma resposta direta, porque absolutamente ninguém me pergunta sobre os desertos que atravessei sem camelo, das tempestades que encarei, das dores físicas e emocionais que tive que contornar e de uma força esplêndida que consegui extrair do âmago para sobreviver. Então; em sendo assim, me glorifico pela luta, pelas leituras de bons livros, pelos estudos em diferentes áreas, pela análise do comportamento humano nas ruas, nas lojas, no trabalho, por ai afora. Eu não vou dizer aqui SOU MAIS EU porque seria muita arrogância. Eu vou dizer simplesmente SOU EU porque EU e apenas EU é que sabemos o quanto a solidão incomoda ou não. O quanto o afastamento de pessoas incomoda, ou não. O quanto ser colocado de lado incomoda, ou não. De tudo, de todos e desses estudos e pesquisas por ai a conclusão definitiva é única e exclusiva: Cada um deve seguir a sua verdade, a sua vontade, os ensinamentos que adquiriu ou teve acesso. Mas as vezes, debater questões numa boa pode ser mais produtivo do que simplesmente achar que a sua verdade é a única que vale. E viva a solidão, o silêncio e a profundidade da inspiração!! 
(P.B.J. 13/02/2020)