terça-feira, 17 de novembro de 2020

BENDITA AO FRUTO NOS CAMINHOS DO INFERNO MASCULINO

Gostava dos tempos em que, encerrada a votação e eleitos os que tiveram mais votos, a vida seguia. Vitoriosos comemorando como se tivessem conquistado medalha de ouro nas olimpíadas. Perdedores em casa fazendo contas para tomar susto com os prejuízos.

E a vida seguia...

Hoje, com as redes sociais mudou tudo. Já na campanha somos bombardeados por candidatos que nunca vimos e nem sabíamos de suas existências. Eu mesmo recebi mais de 50 mensagens de gente se aventurando a uma cadeira na Câmara. Fora as solicitações de amizade no Face que passaram dos limites. Amizades relâmpago na tentativa de levar meu simples “votinho”. É quase como aquela garota bonitona que no começo da noite de sábado desfila sensual pela Rua XV procurando uma vítima para dela arrancar uma roupa, uma bijuteria, um perfume e até um jantar. Pensa que é balela? Havia uma em Curitiba lá nos anos 90 que era mestre na arte. Ela te olhava, sorria, rebolava e ia se chegando como gato safado. Daí o desavisado achava que estava abafando e que iria ter, de repente, uma noite de amor para extravasar todo e qualquer desejo.  Muitos Curitiba à fora caíram na rede da pescadora que, depois da compra de um agrado, o jantar ou lanche, achava um pretexto para se mandar. E assim, muitos Dons Juans ficaram chupando o dedo e depois foram para casa quebrar ladrilhos...

No caso da solicitação de amizade “relâmpago” a vantagem é que não tem encontro pessoal e nem presentinho. Depois, encerrado o pleito, aquele “amigo” nunca mais vai interagir com você. Pelo menos nos próximos quatro anos...

Que dizer então das lamúrias?Uma choradeira com potencial de cachoeira se instalou e não há lençol que dê conta para trazer uma conformidade mais rápida. Ela virá; com certeza que virá...

Agradecimentos pelo apoio, depoimentos de toda ordem pelas escolhas mal feitas pelo eleitorado e até desejos maquiavélicos para que os eleitos venham a quebrar a cara. Talvez assim, lá adiante, a derrota de hoje venha a ter o sabor de uma vitória cuja competição se traduz em sempre torcer contra para que dali se possa tirar algum proveito.

Alguns dos “mesmos” permanecem e isto contraria muita gente que, em análise de bate pronto acham que não fizeram nada e não mereciam a reeleição. Vai ser sempre assim!...

O que faltou foi mulher. Só uma ficará bendita ao fruto entre os homens. Mas ela é Fátima Sebastiana de Paula, tem nome de santa e, em assim sendo, acredito que vai saber conduzir seus passos por entre os caminhos do inferno masculino. No pleito em si, mulher fica lá fora. Continuamos a ter um clube do bolinha nos anais da política. Ah! Mas a prefeita eleita é mulher!

Pois então; fico cá divagando o que leva um contingente de eleitores a escolher uma prefeita e não abrir as portas da Câmara para  mais vereadoras. Tanta mulher capaz se candidatou e ficou de fora enquanto tantos homens que se acham capazes foram eleitos. 

Eles agradecem prontamente. Inclusive ao eleitorado feminino!


-Pedro Brasil Júnior – 17/11/2020


sexta-feira, 13 de novembro de 2020

DECIFRANDO CARTEIRAS

Acredito que o termo correto fosse “mobiliário escolar”, mas desde o primeiro dia na escola o nome era “carteira escolar” e a ordem era explícita: Não pode riscar a carteira!

Foi numa dessas carteiras que jamais consegui enfiar no bolso que dei os primeiros passos rumo ao conhecimento. Algumas dessas carteiras eram próprias para duplas de alunos, mas descobriram que em dois era mais fácil colar durante as provas. Então elas passaram a ser individuais e assim, aquele tampo onde não era permitido riscar era, ao longo do ano e devido aos três turnos escolares, transformado numa espécie de “rede social” de tempos idos.

Eu juro que gostaria de ter guardado a sete chaves uma dessas carteiras onde fiz bom uso e é claro; também deixei minhas marcas em interessantes rabiscos, porque ela continha ali um verdadeiro hieróglifo que só descendentes ao acaso de um tal de Champollion seriam capazes de decifrar assim como fez o famoso francês que decifrou a Pedra de Roseta.

Naquele tampo havia pedaços de tabuada e outras colas providenciais além é claro, de algumas declarações oriundas das primeiras descobertas a respeito do amor. Também havia desenhos variados que misturados ao longo do tempo, em alguns casos, lembravam códigos da passagem de vorazes aprendizes.

As carteiras enfileiradas na sala de aula muitas vezes lembravam os avanços dos peões num jogo de xadrez. Dependendo dos movimentos que alguns faziam no recinto a professora providencialmente os trocava de lugar. Assim, em várias carteiras ficaram as marcas de um bom numero de rebeldes e faladores, inclusive as desse escriba cuja caderneta de recado aos pais volta e meia era preenchida a fim de que, em casa, a gente ganhasse o devido corretivo. Por muito pouco escapei de ser um sósia do Mickey Mouse, mas se escapei das orelhas enormes do ratinho famoso, fiquei mais próximo do Gargamel, aquele caçador de Smurfs.

Carteiras escolares na verdade foram, cada uma há seu tempo, barquinhos sólidos nos quais a gente passou a navegar pelos mares do conhecimento. Muitos se tornaram eternos grumetes e outros chegaram a almirante ou comodoro. Como adoro lembrar aqueles tempos onde, de guarda-pó branco não éramos simples alunos; tínhamos um pouco de enfermeiros das palavras que nós mesmos feriamos com escrita ou pronuncia errada. Pena que naqueles tempos não nos permitiam saber uma verdade incontestável: é errando que se aprende. Eram tempos em que tínhamos a obrigação de apenas acertar, de aprender na marra, de copiar cem vezes no caderno frases do tipo “eu sou capaz de aprender”, numa espécie de manivela que faria o cérebro pegar no tranco.

Tudo passou – a escola, as carteiras, os amores platônicos, a cartilha, o livreto com a tabuada, os livros, os cadernos, a régua, a borracha, os lápis, canetas e os folguedos da hora do recreio, não sem antes provar uma deliciosa sopa ou chocolate quente e também mingau de aveia.

Viriam tempos depois outras carteiras – agora possíveis de carregar no bolso – a identidade, a habilitação, a do trabalho  e carteira apropriada para se carregar o que sempre é mais difícil conseguir: o dinheiro!


 Pedro Brasil Júnior – 13/11/20