quinta-feira, 29 de outubro de 2020

FANTASMAS ARRASTAM CORRENTES NO GRANDE CASTELO

Quando menino os velhos do meu tempo ganhavam o rótulo já aos 45 ou 50 anos. Quando esta idade chegava, lembro muito bem, ouvia-se aquelas pessoas dizer que “a partir daqui, o que vier é lucro”.

Recordo que também havia pessoas lá com seus 60, 70,80 e até algumas com 90 anos e muita gente com a língua afiada dizia que “eles já haviam morrido e tinham esquecido de enterrá-los”.

Quanta maldade na visão daquela gente de outrora que nos obrigava a respeitar os mais velhos sob todas as formas. Mas a maioria não tinha o mesmo respeito. Era aquela coisa do “faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço”.

Décadas dispararam em nossa existência e os idosos passaram a ganhar rótulos a partir dos 60 ou 70 anos com muitos por ai chegando ao centenário e com toda lucidez. Mas continuam sendo assustadores fantasmas em meio ao circo dos horrores de uma sociedade cada vez mais alucinada e hipócrita.

No meu tempo de guri eu olhava os idosos e ficava muitas vezes pensando como seria viver numa carcaça abalada pelo reumatismo e outros tantos males. Pois bem; acabei chegando à condição que hoje se transformou em “melhor idade” por questões educativas cuja finalidade é acabar com o preconceito contra os “estorvos” que a cada dia aumentam em número na nossa terra. São tantos hoje que governantes sem escrúpulos tem a capacidade de cuspir em discursos enfadonhos que os idosos são os responsáveis pelo caos econômico e assim, tivemos um Temer com a cara de pau de dizer que as pessoas vão viver 140 anos e, portanto, podem se aposentar aos 74 anos. E agora mais recente, o homem eleito pela massa, em plena pandemia foi aniquilando com os benefícios a que todo idoso tem direito e torcendo, conforme até um ministro de sua laia teve coragem de afirmar, que seria bom que os idosos morressem para que se pudesse salvar a economia.

Olhando esses senhores do “poder sujo e maquiavélico” fico pensando a respeito do que preenche seus cérebros e seus corações, porque já estão também capengando pela idade que avança, mas possuem a sordidez de fazer pouco caso àqueles que, cada um a seu modo, depositou suas energias no trabalho, gerando riquezas, movimentando o comércio e a indústria e é claro; pagando esse turbilhão de impostos aos quais somos vítimas de uma espécie de escravismo que beneficia apenas aos que assumem seus cargos e inventam para si os auxílios mais absurdos e caríssimos para que todos nós paguemos e ainda os exaltemos como autoridades.

Velhos, idosos, portadores da melhor idade, recebendo a maioria aposentadorias medíocres, com atendimento médico precário e sem acesso a medicamentos. Enquanto isto o Estado, representado hoje por uma classe de sanguessugas segue capengando em blá blá blá sem que as soluções devidas possam ser convertidas em verdades e benefícios à brava gente velha brasileira.

Nós, essa legião de fantasmas, seguimos por ai, cada um arrastando suas correntes em meio a esse majestoso castelo chamado Brasil onde se produz tanta comida e muitos padecem de fome, onde temos grandes bacias hidrográficas e muitos padecem pela seca e onde todos tem esperança de tempos melhores, mas esses tempos nunca chegam. Campanhas vão e vêm, as promessas ridículas são as mesmas e os caras de pau ocupam suas cadeiras já pensando em reeleição. E hoje, o mote de muitos cínicos é “cuidar das pessoas”, “estar na linha de frente”, mas cá entre nós, quem deles cuida de quem? Quem deles na guerra vai à linha de frente para levar o primeiro tiro? Francamente, essa gente mesquinha nunca respeitou, não respeitam e jamais vão respeitar os idosos da nossa terra. E a prova maior está em evidência neste momento em que começam a mexer os pauzinhos para privatizar o SUS(***) . O SUS é tudo o que ainda nos resta e, se privatizado for, tenha certeza de que você ficará velho, sem assistência e morrerá à míngua em meio a esta terra de ninguém. Agora; quando a velhice os acolher na imensa rede, muitos vão mudar de religião, vão abraçar uma Bíblia com todas as forças restantes na tentativa de reduzir a cobrança dos céus, da Divina Providência. Mas daí, os portais do inferno estarão escancarados à sua espera...

 - Pedro Brasil Júnior – 29/10/2020 -

(***) Lembrando que para privatizar o SUS será preciso mexer na Constituição Federal. É por isto que já andam falando em nova Constituinte.

segunda-feira, 19 de outubro de 2020

QUANDO DEUS FALA COM A GENTE

 


Escrevi hoje bem cedo essas três linhas:


“Bem-Te-Vi no parapeito da janela

Espiou, não viu nada, se foi...

Bem que eu Te Vi !”

Veio do nada e eu nem tinha visto ou ouvido um Bem-Te-Vi.

Mas ali por perto do meio-dia eis que surge a pouco mais de um metro este belo exemplar de Bem-Te-Vi.

Ficou ali tranquilo, imponente e fazendo poses para as fotos.

Bem que Te Vi e captei este instante mágico.

Bem que na Alma a mensagem se completou.

Porque Deus tem maneiras especiais de falar com a gente...


- Pedro Brasil Júnior - 18/10/2018-

O ABRAÇO DO TAMANDUÁ

Livre e solto em seu habitat só tive a chance de ver um tamanduá uma única vez quando ainda menino. As pessoas de então diziam que era um bicho perigoso. Foram necessários muitos anos para que finalmente eu pudesse descobrir que não eram, necessariamente, tão perigosos assim. De uma beleza incrível, os tamanduás esmiúçam os cupinzeiros para se alimentar e dão um toque especial a qualquer cenário dito selvagem. Nestes tempos de fogaréu ali pelo Pantanal sabemos que muitas espécies sucumbiram e muitos exemplares da fauna foram salvos por pessoas decididas a esta tarefa tão importante e complicada. São pessoas que empunham a bandeira da preservação e vão à luta, mesmo expondo-se às ameaças do fogo ou até mesmo a ataques de animais peçonhentos.

Assim, deparo neste universo da internet com um vídeo feito lá naquelas bandas onde um jovem caminha sendo seguido por um tamanduá. Ele resgatou o animal com seu filhote e agora, adotados, mãe e bebê não desgrudam do rapaz e dos seus cuidados. Carinho e dedicação aliados ao respeito integram sim as ditas feras à fera maior que pode se transformar um homem. Aquele jovem empunhou a bandeira da bondade e da consciência ecológica e a mamãe tamanduá com seu filhote nas costas sabe que ali está segura para perpetuar sua espécie já tão ameaçada.

A natureza nos tem ofertado tantos exemplos, mas ainda assim a ganância e o desrespeito do homem se fazem mais fortes a ponto de aniquilar imensas áreas em detrimento dos altos lucros através do agronegócio. O mundo precisa de alimentos, mas a alma humana precisa de muito mais.

Então eu fico com o abraço do tamanduá e empunho a sua bandeira em defesa da proteção das nossas matas e de todos os nossos “bichos perigosos” cuja capacidade de fera se rende ao homem num pedido de socorro jamais pensado.


-Pedro Brasil Jr – 19/10/2020 -

quarta-feira, 14 de outubro de 2020

QUERO MEU LUGAR NO QUEIJO

Campanha política é coisa invulgar porque na visão da maioria dos candidatos o objetivo é aquela cadeira onde se exerce o cargo para o qual se foi eleito. Para chegar ao queijo e suas delícias existem as regras do jogo e, como em todo jogo, sempre existem os que tentam burlar, usando dos mais criativos artifícios e, em sendo assim, despertando a ira nos concorrentes que ficam atentos a toda ação que porventura venha a infringir a regra da disputa. Enquanto a campanha dispara, as pesquisas vão revelando preferências e o contingente de candidatos vai criando suas estratégias, o eleitor, aquele que escolhe o seu representante, recebe os santinhos e nem se arrisca a rezar. Pior é que a maioria dos eleitores deixa para escolher alguém às vésperas da eleição e muitos até no dia quando, sem muita opção, escolhem aleatoriamente alguém ou votam em branco ou anulam seu voto, coisa que não é boa para a democracia.

O queijo está lá à espera dos que chegarem à frente, tal qual na concepção de cada indivíduo cujo espermatozoide ganhou a corrida e lhe deu direito à vida. Da mesma maneira, creio eu, em se tendo direito à vida pelo mérito da “vitória” que na disputa aos cargos eletivos, os que forem agraciados com maioria de votos que deixem de focar na cadeira, nos salários e nas vantagens e que observem a real função e que façam valer seus projetos, dentro de todos os parâmetros, a fim de que a cidade, seja ela qual for, possa ganhar todas as melhorias necessárias em detrimento de uma qualidade de vida melhor para sua gente. Sim; o queijo é convidativo, mas o eleitor precisa, antes do pleito, analisar seus candidatos, ver seus projetos, olhar a cidade onde vive como ela se encontra para ver se realmente as propostas dos candidatos do momento são possíveis, melhores do que a atual administração vem realizando e se muitas dessas propostas/promessas podem ser realizadas com recursos do próprio município. Do contrário; o queijo poderá ser maravilhoso para muitos, mas o eleitor é quem acabará topando com a armadilha fatal. Vote consciente, analise e não se deixe levar pelos “mi mi mis” da campanha. Não se esqueça daquela máxima antiga que diz: “muitos se fingem de morto para faturar o coveiro”. É o nosso país, é a nossa cultura eleitoreira. Tá na hora de mudar, mas é preciso ter consciência, discernimento e participação ativa ao votar e depois, para fazer a devidas e justas cobranças.

quinta-feira, 1 de outubro de 2020

APRENDIZES DO VIVER

Envelheci e nem percebi que, durante a dança do tempo, foram ocorrendo mutações em meu ser.

Então envelheci sorrateiro como aquele vinho esquecido no armário ou como aquelas fotos de tempos idos que aderiram a um tom amarelo, dando o alerta de que é inevitável segurar esse alazão que atravessa o espaço sempre imponente, sempre ávido em sua mensagem, sempre disposto a nos dizer que nada no Universo tem parada. É preciso ir em frente todos os dias, ainda que muitos fiquem questionando qual é o destino.

Simplesmente o conhecimento e a experiência que são pequenas estações para onde nosso trem azul segue esfumaçando a paisagem, recolhendo ao longo da jornada aqueles entes queridos, aqueles amigos que estranhamente surgiram em outras paradas e que juntos, a cada trecho, celebram as alegrias e dividem as tristezas.  Mas de repente, alguns vão descendo antes, nos deixando naquele vagão que ao longo da viagem vai ficando vazio e se enchendo de saudades.

Ah! Mas eu nem lembro que cheguei a essa tal de “melhor idade” até porque, desde que me conheço por gente, sempre vivi a melhor idade, fosse na infância entre os folguedos e artimanhas de menino, fosse na adolescência preparando o coração para o amor e a construção de um novo tempo ou fosse na idade adulta onde se chega a estágios sérios, onde responsabilidade significa esforços dobrados e onde, é claro; a gente de fato e de direito sente um peso diferente, porque os músculos já não atendem como nos tempos do futebol ou das pedaladas numa bike. Tempo onde o cansaço surge do nada e a gente olha para o sofá e diz: “Velhinho, dá licença, mas preciso de um cochilo!” – Daí a gente acorda reanimado e segue pelo dia esquecendo-se da idade e indo fazer coisas que já não são tão apropriadas como na juventude. E daí? Eu me sinto jovem e por isto, vou pintar a parede, fazer uma pipa, limpar a calçada, passear com os cachorros e fazer um turismo pelas ruas ao meu redor. Mas, sobretudo, a idade que avança tem uma magia toda própria, porque através do tempo a gente aprendeu de tudo um pouco, a trancos e solavancos e se chega a esse estágio dotado de vivência, visão ampla a respeito da vida e de tudo o que nos cerca. Então a gente tenta passar um tanto disso aos jovens, mas eles, pelo menos esta geração de hoje, me parece que nasceram antes da gente e preferem pagar para ver o que acontece. Entrou em moda o “dá nada!” e depois que dá tudo a quem eles apelam? Desde sempre, desde as primeiras tribos, os mais velhos eram e continuam a ser os melhores conselheiros, porque velhice significa experiência e conhecimento e somente com essas duas características é que a gente pode se tornar velho, com espírito jovem e certos de que viver é muito mais do que uma dádiva, é o compromisso de vir, fazer e sentir a satisfação de ter cumprido, ainda que em parte, a sua missão.

E me permito “roubar” aqui um pouco da inspiração do Caetano Veloso que naquele tão distante 1979 escreveu:

“Eu vi o menino brincando/ Eu vi o tempo/ Brincando ao redor do caminho daquele menino. /Eu pus os meus pés no riacho/E acho que nunca os tirei...”

Então, que “Força Estranha” é esta que rege nossa existência?Eu um dia também pus os meus pés no riacho e sigo com eles molhados, sentindo o frescor da água cristalina, ouvindo a doce canção da corredeira e percebendo sim que a Vida é amiga da Arte e que é preciso saber viver tentando compreender que nada mais se é do que um integrante de todo o cenário. “Eu vi muitos cabelos brancos na fronte do artista /O tempo não para, no entanto ele nunca envelhece.”

Que sejamos eternamente jovens em nossas mentes, que saibamos envelhecer e aceitar as mudanças e, sobretudo; que saibamos o tempo todo, interagir com a magnitude da vida, com a grandiosidade do planeta, com o infinito Universo e com a dádiva de ter vindo não para ser “mais um”, mas para ser um eterno aprendiz do viver.

- Pedro Brasil Júnior – 01/10/2020