sexta-feira, 18 de agosto de 2023

ÉRAMOS RIDÍCULOS PORÉM, ROMÂNTICOS

Faz bom tempo quando, uma ocasião, tive a ideia de mostrar aos meus filhos um disco vinil dos Pholhas. A minha vontade era, na época, que eles, de repente, gostassem das canções que, no início dos anos 70, ainda em minha adolescência, mexeram muito com o romantismo. 

Qual foi a surpresa quando, ao observarem a capa do disco, se estrincharam de tanto rir ao deparar com os trajes dos integrantes da banda que, aliás; eram as roupas da moda da juventude de então. Eu sempre digo que “éramos ridículos, mas detínhamos um romantismo magnífico e verdadeiro”, por isto, acredito eu, atravessamos todas as fases da história até aqui, preservando esta joia rara que é olhar tudo com o coração, com a essência mais pura. 

O disco que eu tinha, nestas idas e vindas da vida, acabou se perdendo, mas as canções sempre se fizeram presentes, fosse numa velha fita cassete ou hoje, num pendrive que tem de tudo e vive cansado de trabalhar naquele rádio do automóvel. Esse LP da foto, em minha opinião, foi o que apresentou os maiores sucessos da banda paulista e eu recordo muito bem que, na época, eram as mais tocadas nas rádios, lembrando que não existiam emissoras em FM. Aqui em Curitiba, a rádio mais próxima de uma FM era a saudosa Rádio Iguaçu. Os Pholhas continuam na estrada, com formação diferente da original, mas seguem trabalhando porque qualquer um de nós sabe muito bem que os “boletos sempre vencem”.


 Daí eu fico olhando estes 54 anos desde o lançamento do disco, e me perco em gratas lembranças, a começar por uma vitrola Phillips onde a agulha quase furou este disco, depois por um gravador também Phillips onde muitas fitas se enroscaram, para meu desespero e sem não esquecer, aqueles domingos mágicos, com macarronada, frago ao molho, maionese e, à mesa, uma Coca-Cola Família. 

Pena que minha irmã Marina já tenha partido, ela que também adorava a banda e, assim como ela, outras gentes que habitavam nossa casa para “filar boia”, tocar violão, jogar conversa fora. De repente, como gravou o Lulu Santos, “tudo muda o tempo todo no mundo” e a gente envelhece, mas jamais esquece as grandes passagens da existência.

 Depois? Ah! Depois surgiu uma série de álbuns intitulados “Autógrafos de Sucessos” com um deles todinho dedicado aos Bee Gees. Mas esta é outra história!… P.B.J – Curitiba, 18/08/2023

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2023

DIVIDINDO OLHARES



Temos considerável diferença de idade, em compensação, temos um magnífico equilíbrio de gostos e um modo de pensar que elimina a diferença dos anos. No que tange a culinária, eu adoro rabada com polenta, ela nem o aroma aguenta. Pelo que se vê, perfeição absoluta não existe, mas a gente resiste, a gente compreende e respeita mutuamente algumas manias que podem ser comparadas a sinais de nascença. Têm coisas que já vem conosco, muitas delas se adquire naqueles primeiros anos em família. Quando se conhece outro alguém e se junta os trapinhos, há que saber, com muito custo mesmo, que será necessário bom jogo de cintura para que tudo possa fluir da melhor maneira.
Com o tempo, se conhece a fundo os desejos e vontades e aquilo tudo que, de repente, pode não agradar. Em se tratando de verbos, numa relação o mais importante é saber "abdicar" de algumas coisas para que se possa deixar a balança a dois em equilíbrio.
O tempo vai passando, os filhos chegam, muitas coisas da rotina mudam e outros costumes se incorporam à convivência. Outrora; fui ensinado que atrás de uma porta não se guarda absolutamente nada, nem vassoura de prontidão, para varrer na saída de visitas inconvenientes. Eu sei, coisa lá dos antigos...
Vai daí que atrás da porta, um belo dia, havia sombrinha, guarda-chuva, tapete enrolado e a hóspede assustadora tirando cochilo em sua teia.
Também entra no jogo aquela coisa de se criar espaços para que se possa, de alguma maneira, organizar melhor a casa. Então; espaço criado, rapidinho surgem cacarecos não programados para ali ocupar. Manias que com o tempo, depois de algumas conversas, são eliminadas visando o melhor para ambos.

Nós dois temos em particular a graça de enxergar muito bem. Qualquer coisa distante é bem vista sem que se precise visitar o oftalmologista. Já para leitura, essas letrinhas miúdas dos livros, do computador e do celular, exigem o uso de um óculos para leitura ou descanso. Então, passamos, de uns tempos para cá, a partilhar o meu óculos em diversas situações. Ela tem o dela, que fica abandonado na bolsa. É muito mais fácil e prático pegar o meu emprestado, já que na maior parte do tempo, o meu está sempre por perto.
Então ela precisa fazer um pix, e lá vai meu óculos auxiliar. Se necessita ler a validade de um produto, uma receita de bolo, entre outras mazelas, o meu fiel companheiro e escudeiro dos meus olhos pula para a suavidade do rosto dela, causando, de imediato, uma visão de sensualidade provocante.
Se dividimos a cama, as escovas, os espaços e todas as vontades, dividir os óculos não causa nenhum dissabor, exceto que às vezes, por descuido, lá vai ela para o trabalho e leva consigo o meu fiel companheiro de lentes. Então eu fico às cegas para minhas leituras e demais atividades.
Sim! O tempo avança e a visão encurta, porém; nosso verdadeiro olhar vai muito além da galáxia, vai muito além dos mistérios incrustados no âmago.
Como escreveu Exupèry: “Só se vê bem com o coração, o essencial é invisível aos olhos."


Obs: escrito em 15/02/23 utilizando o zoom no computador.