quarta-feira, 13 de maio de 2009

JÚLIA DA COSTA - A POESIA NAS ASAS DA BORBOLETA


Não foram poucas às vezes em que passei pela Alameda Julia da Costa, em Curitiba como se a mesma fosse uma rua qualquer. Na verdade, todos nós circulamos pelas ruas e nem nos damos conta sobre a importância histórica de quem deu à rua o seu nome através de justa homenagem. Salvo grandes expressões da história, os outros, menos conhecidos ou que nunca se ouviu falar, são aparentemente, meros coadjuvantes neste processo denominativo.
Não faz tanto tempo, me surpreendi ao ler nos jornais a respeito da descoberta de uma ossada na cidade litorânea de Paranaguá.


Os ossos eram da poetisa Júlia da Costa, nascida naquela cidade em 1º de julho de 1844 e estavam na Praça Fernando Amaro, bem no Centro Histórico de Paranaguá onde haviam sido colocados em outubro de 1924 e só foram localizados porque houve a necessidade de retirada de um obelisco de pedra pesando cerca de 4 toneladas. Através de um cuidadoso trabalho, uma empresa funerária fez a retirada dos ossos que foram então encaminhados ao Instituto Histórico e Geográfico de Paranaguá, onde posteriormente foram sepultados num jazigo construído na Praça Cívica.
Personagem ilustre da cidade, Júlia da Costa casou-se com o comendador Costa Pereira, chefe do Partido Conservador e viveu toda a sua vida na Ilha de São Francisco do Sul onde faleceu em 1911. Figura controvertida, forte, decidida e, acima de tudo, à frente de seu tempo, Júlia publicou dois livros. Dizem que amou o poeta Benjamin Carvoliva e com ele manteve longo período de correspondências em segredo. Desiludida depois que o amado foge e a solidão se torna cada vez maior depois da morte do comendador, ela fechou-se em casa com manias de perseguição e neste período, planeja escrever um romance e passa a confeccionar painéis coloridos com cenas campesinas, interiores de lar e paisagens inspiradoras que espalha pelas paredes. Em sua velhice solitária, Júlia da Costa enlouquece e permanece fechada no casarão por longos 8 anos, dele apenas saindo para o cemitério.
Regresso agora à Alameda que leva o seu nome e que já passou por inúmeras transformações. Gente apressada, empastada, empacotada e carros vorazes em pegar o próximo semáforo aberto. Loucuras do estresse diário, com o nome da poetisa nas placas ostentando uma história triste e cruel.
A mulher de outros tempos envolta pela poesia viva, pelo amor impossível e pela solidão que certamente corroeu seu coração e sua alma. Mas ficaram além dos seus restos mortais e das placas apontando o nome da alameda, a sua arte, as suas palavras e um grande exemplo da força da mulher a qualquer tempo.
Não consegui nenhuma outra foto a não ser a que você observa e diante disso, descobri também, por um desses acasos, a beleza colorida de uma borboleta denominada “Júlia”, que tenho a honra de reproduzir aqui também.
E faço isto porque Júlia da Costa foi sem sombra de dúvidas uma poesia viva e solitária, como algumas borboletas que ruflam asas pelos jardins da vida, sozinhas, alheias aos perigos e aos mistérios que habitam além do jardim.
A seguir, uma poesia de Júlia da Costa, para que possamos eternizar a sua tão importante passagem pela vida terrena.

O POETA

O poeta é a flor que desabrocha túmida
Ao sol da vida que dá luz ao val
É o orvalho doce de gentil aurora
Em tímido rosal!
É o círio ardente de uma crença santa
Que o mundo aponta ao descair do dia
É um’alma crente que se une aos anjos
Em mágica harmonia
O poeta é a luz que rutila vívida
Nos verdes campos da feliz mansão!
É um sorriso que desmaia trêmulo
À voz do coração!
O poeta é o gênio que dá vida à terra,
Dá voz à brisa, dá perfume ao mar!
É o cisne lindo que desprende as asas
Em trêmulo ansiar!...
( Júlia da Costa )

* Os dados a respeito da poetisa foram extraídos do site A Mulher na Literatura, da Universidade Federal de Santa Catarina-UFSC

Um comentário:

Anônimo disse...

Em seu poema descreve bem o que amar e não sentir que seu amor não e correspondido na mesma intesidades,percebe certa angustia em sua descrição de qual seria avisão do poeta e no final ao falar do cisne demosntra seu desejo de liberdade .