domingo, 3 de maio de 2009

RESPEITÁVEL PÚBLICO... ONTEM EU FUI AO CIRCO!


Ontem fui ao circo!
Depois de longa data, decidi fazer um programa diferente para divertir a criançada e ao mesmo tempo, ver o que andam fazendo de novo estas companhias circenses que circulam pelo nosso país. Confesso que não vi muitas novidades, exceto o globo da morte com oito motocicletas, o que sem sombra de dúvidas é um show à parte. O Circo Moscou está na cidade e até me surpreendi com o bom público presente para ver os malabaristas, o equilibrista em sua minibicicleta, os trapezistas e uma dupla de palhaços muito longe do que a gente via antigamente. Mas circo é assim mesmo, muitas vezes deixam a gente com um grande vazio, porque ao longo do tempo estas casas de espetáculos sob as lonas atravessaram e continuam a atravessar muitas dificuldades e dentro de suas possibilidades, nos apresentam o que podem de melhor. O pessoal dá realmente o sangue de um lado e a vida do outro, porque ali o malabarista no picadeiro é o mesmo que vende lembrançinhas no meio do público e na medida em que o espetáculo avança cada um vai fazendo sua parte para ajudar na arrecadação. Mas de certo modo, senti uma carência muito grande daquela antiga e apaixonante essência circense, coisa de profissionais antigos que já nos deixaram há muito. De toda maneira, valeu pela organização, pelo que se mostrou e pelas quase duas horas em que a gente deixou tudo lá fora para viver a vida em meio às luzes e àquele universo todo próprio, que certamente resguarda nos bastidores a vida como realmente é no dia após dia.

Mas esta ida ao circo me fez descobrir que há muitos anos eu vivo também no circo, todos os dias, erguendo minhas lonas neste mundão afora, estourando minhas pipoquinhas aqui e ali, dando um banho de açúcar colorido nas minhas maçãs do amor, tirando fotos de outras caras sorridentes e depois vendendo os instantâneos aplicados num chaveiro e é claro, dia após dia fazendo malabarismos para sobreviver e me equilibrando no cabo de aço para tentar deixar as coisas em ordem, porque qualquer tombo na vida não oferece uma rede de segurança lá embaixo. Noutras ocasiões, dou meus saltos no trapézio, correndo meus riscos a contra gosto, mas sem me importar com tudo isto. Tem que ir lá e conferir! Aja coragem e audácia. Mas a vida imprime este ritmo e depois de mais um salto, não contente, ela exige da gente todas as formas de contorcionismo e mesmo diante das nossas dores, temos que sorrir bastante, transmitir alegria, com a cara pintada de cidadão, bolinha vermelha no nariz, pagando impostos por tudo o que se compra, pagando caro por serviços de péssima qualidade, pagando pedágios para trafegar em estradas e encarando filas mais compridas do que nossa própria esperança para poder conseguir receber uns trocados ou para pagar nossos pecados em forma de contas que nunca terminam e onde lançam coisas que nunca compramos e jamais pedimos. E assim a caravana segue, e a gente vai vivendo esta vida de circo sem nem ao menos ter idéia de que estamos por lá, todos os dias. Sim; descobri que vivo faz tempo num grande circo, onde os espetáculos ultrapassam nossas expectativas e nem ao menos recebemos um aplauso por tudo isto.
O circo, na real; permite-nos relaxar das agruras de cada dia, mas na vida, lá fora, longe das lonas e das luzes, o circo que a nós pertence, nos exige muito mais do que dar o sangue para fazer o show acontecer, nos exige sabedoria, paciência e muito jogo de cintura para encarar as grandes palhaçadas do poder, de onde extraímos nossas gargalhadas enquanto a grande caravana passa anunciando um novo e surpreendente espetáculo.
Sorria! Você está no grande circo da vida. Mas se tiver que chorar um pouco, chore. Até porque; os palhaços, em suas vestes esquisitas, em suas pinturas espalhafatosas e suas brincadeiras inocentes, muitas vezes, lá no camarim, deixam lágrimas se espalhar pela face, porque eles vivem o grande circo duas vezes em cada dia de suas existências.

2 comentários:

Luiz Andrioli disse...

Belo texto, amigo.
Acho que tb vou! Deu vontade...

Abs

Maria Alice Mendes disse...

Pedro, você é genial! Mas você não está sozinho no "picadeiro da vida". Lendo a sua crônica, dei-me conta de que, de uma certa forma, estamos (todos) inventando "caras e bocas e jeitos e roupas" para corresponder à expectativa de um mundo que nos cobra (cruelmente). Um grande abraço, uma boa-noite (porque, agora, é hora de "o palhaço descansar" Genial, Pedro!
Vou acompanhar o seu blog, sempre.