À caminho do nada em busca da esperança!
Assim tem sido ao longo do tempo, a vida de homens que audaciosamente cruzam o Saara encarando todos os desafios de uma solidão tão imensa que chega até a se apoderar do mundo. Poder-se-ia dizer com certeza que se trata apenas e tão somente de mais uma dessas artimanhas da natureza, porém, é muito mais amplo e profundo do que podemos imaginar. Para tentar entender teríamos que subir no lombo de um camelo e viajar com aquelas caravanas formadas por homens com a pele escura e áspera, carregando o sal da terra e bebendo uma água insalubre, quase um veneno para quem não faz parte do cenário. Essas travessias registram pegadas feitas por pés descalços, algumas vezes, em cujas marcas o destino apenas incita a seguir a caminhada. São passos de semideuses encorajados pela aventura de vida e sobrevivência. Também ficam nas areias as patas dos camelos, marcando a passagem desses autênticos reis do deserto, muitas vezes castigados pela fome e pela distância e que não resistindo deixam ao léu suas heróicas carcaças. Sim! Por ali passaram e continuam a passar esses homens em sua busca desenfreada por algo que não se explica, apenas se sabe existir e lá vão eles, sem mapas, sem bússolas, com pouca ração, pouca água, mas uma invejável fartura de viver intensamente aquilo para que foram designados, talvez por Alah, talvez porque o destino assim determinou. Muitos povos atravessam o Saara em busca de suprimentos diversos, levando mercadorias para a troca, procurando esposas para casar, tudo sem luxo, sem extravagâncias, porque aquele é um mundo completamente à parte e misterioso. Caminha-se por léguas e mais léguas e só se observam as dunas e o céu. Só se pode sentir o escaldante calor durante o dia e o inexplicável frio da noite. Eles sonham também, enquanto as estrelas cintilam lágrimas de louvor à coragem que lhes habita a alma. Havia uma árvore apenas no caminho desses homens. Uma vistosa Acácia que era a árvore mais isolada do mundo. Um símbolo de respeito para os homens do deserto, que durante muito tempo usufruíram da pouca sombra que ofertava e que a partir dela, sabiam onde estavam e para onde deveriam seguir. A Árvore do Ténéré reinou naquele lugar por décadas e em 1939 um grupo de cientistas escavaram ao seu redor para saber como ela resistia. Descobriram que suas raízes se aprofundavam a 35 metros para extrair a água necessária de um bolsão. Diz-se que aquela única árvore foi o que restou de um grupo de acácias que ali nasceram quando o deserto era menos seco pelo final do século 19. A árvore solitária e distante de tudo num raio de 400 quilômetros resistiu muito bem até 1973 quando, um motorista embriagado conseguiu a proeza de bater com seu caminhão na árvore e acabar ali com uma história que marcou a vida daqueles homens do deserto. Para eles, o “Ténéré” quer dizer “o nada” e realmente “o nada” se encarregou de seguir sendo o que desejava ser, até porque muitos mistérios que nos cercam não podem mesmo ser explicados. A Árvore do Ténéré foi levada para Niamey, capital do Niger e encontram-se no Museu Nacional local os dois troncos daquela que foi não apenas mais uma árvore, mas talvez, a mais importante de todas na face do planeta. Temos que pensar seriamente na Árvore do Ténéré não como um fato curioso ou ainda, porque era a única no meio do nada e por isto eles a cultuavam tanto. A grande e triste verdade é que lentamente estamos caminhando para uma tragédia parecida, já que os desmatamentos seguem desenfreados e se assim for, num futuro não tão distante estaremos correndo o risco de ver desaparecer a última árvore “do tudo”, um lugar onde o dinheiro sempre foi o mais importante, onde a marca dos seus homens sempre foi a ganância e de onde um dia, restarão também pegadas de pés descalços, demonstrando uma caminhada rumo ao fim, porque neste dia, a esperança já terá sido assassinada há muito tempo.
(Pedro Brasil Jr - 03/jun/2010 -)
*Publicado originalmente na Usina de Letras - www.usinadeletras.com.br
Um comentário:
OiPedro,gostei muito da matéria sobre a saúde do homem,que realmente requer mais informação e menos machismo bobo, que os leva à morte precoce.Também amei a história sobre o deserto.Confesso que me emocionei com a história da árvore,mais uma vez o ser humano marcando presença de forma tão desagradável.Que pena.Que tal você abordar a causa das baleias?
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