-Pedro Brasil Júnior -
Tenho por costume, regressar no tempo em busca de aventuras comuns à minha vida e, ao mesmo tempo, de emoções plantadas e vividas por essa gente que faz parte de todo o nosso contexto histórico. Volto, com freqüência, uns 20 ou 30 anos, porém; regressar há 100 anos não é tarefa das mais fáceis. Principalmente porque há 100 anos, provavelmente, eu estivesse em outras andanças, naqueles tempos que anunciavam drásticas mudanças nos rumos da história. Mas volto hoje através deste tempo que não para. Volto para ver nascer uma estrela e com o próprio tempo, acompanho sua trajetória. Agora, peço que me permita chama-lo pura e simplesmente de Spencer. Spencer é um nome comum, assim como tantos outros nomes, mas se o chamasse agora pelo nome que o tornou famoso, seria o mesmo que tentar narrar um fato histórico sem ao menos se ter uma idéia das coisas e das pessoas que dele fizeram parte. Peço a você, caro amigo Spencer, que me permita pedir-lhe hoje, cem anos depois do seu nascimento, que regresse – para outra vez contribuir para com a humanidade, no sentido de que as pessoas nunca esqueçam que existem injustiças, desigualdades, incompreensões e, sobretudo, o amor e a alegria. Sim; você precisa voltar! Eu sei que não voltarás da figura que o tornou um símbolo. Eu sei que, se voltar, virás incumbido de nova missão. E eu espero que esta nova missão seja para você tão difícil quanto à passada. Não é fácil compreender os homens! Não é fácil fazer os homens rir! E nunca foi tão difícil trilhar um caminho como nos tempos em que andavas por aqui na busca de reconhecimento. Você, amigo Spencer, conseguiu tudo isto! És símbolo da alegria mágica – a alegria que nos faz rir sem esquecer que ao redor, a vida clama por mudanças. O mundo cresce Spencer! – Mas fica cada vez mais vazio sem a tua presença... Alguns tentam imita-lo! Quase conseguem... Mas a maioria dos homens nem pensa nisto! Existem outras prioridades... A bomba, a fome, a poluição e os grandes interesses que nada respeitam. Meu caro Spencer; você passou... mas soube fazer da arte a realidade da vida. Você mostrou que o improviso pode causar simples mudanças. De uma roupa maior que o seu corpo, um chapéu minguado sobre a grande cabeça e de uma velha bengala, você criou Carlitos, o gênio maior. O gênio que habitava o teu ser, mas que precisava de uma identidade própria. Meu caro Spencer; você pagou um alto preço por tudo isto, mas soube mostrar ao mundo o quanto de humano você possuía. Você deixou muito de grandioso aos homens que rumam para o século 21. Você, com toda certeza, deixou uma chave de ouro – a única que poderá abrir as portas de um novo tempo, nesta conturbada época que nos cerca. Que os homens jamais o esqueçam! Que os homens de hoje e de manhã, sempre possam olhar a tua figura e lembrar que você não foi simplesmente um palhaço que fez o mundo rir. Que os homens olhem a tua imagem e digam a si mesmos que o mundo já teve muitos gênios, muitos sábios, muitos mágicos... mas que, em tempo algum, o mundo terá outro Charles Spencer Chaplin Obrigado por você ter nascido e nos ensinado a amar. Principalmente as coisas mais simples... • Publicado originalmente no Jornal O ESTADO DO PARANÁ – edição do dia 23 de abril de 1989.
• NOTA-
O presente texto, reproduzido na íntegra conforme publicado é mais uma justa homenagem a Charles Chaplin neste dia 16 de abril, quando celebramos a data do seu nascimento em 1889. Chaplin faleceu no dia 25 de dezembro de 1977.
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