E vejam só como nós fazemos descobertas inusitadas a respeito da vida. Quando menino, piá bem pançudo mesmo, descobri que existia o governo, naquele caso, a geladeira GE que ocupava a cozinha da nossa casa. Ali no GOVERNO era tudo normal dentro das condições, ou seja; às vezes só trabalhava aquela garrafa de vidro com água e noutras vezes o lugar ficava entupido de coisas boas. Vai daí que este piá então pançudo descobriu numa das prateleiras do elefantão a existência de uma maravilhosa e convidativa lata de Leite Condensado Moça. Mas que moça deliciosa, no melhor dos bons sentidos, até porque naqueles tempos piá pançudo nem tinha noção que poderiam existir coisas mais atrativas. Deixa prá lá!...
Foi então que transformei (acho
que eu era visionário) aquele abrir e fechar de porta do refrigerador num
destes intervalos do SBT quando o locutor diz com voz entonada “de hora em hora
o resultado da Tele Sena”. Mas ali, de hora em hora era uma mamadinha na lata.
Que coisa mais gostosa, uma delícia, um verdadeiro manjar dos deuses de algum
planeta todo açucarado.
Minha mãe, dona Maria Brasil
nem desconfiava do assalto e eis que recebe uma daquelas comadres para um
cafezinho da tarde. Então, topou com a lata vazia e me deu uma olhada de
verdugo. Eu sabia que o doce da vida ia se transformar numa amargura com
vergões de vara de marmelo. Apanhei mesmo e doeu no corpo e na alma.
Por longo período odiei
aquela mulher da latinha. Na verdade odiei o leite condensado por anos. Hoje,
passado pouco mais de meio século desde aquele incidente melado descubro que
meu crime não foi assim tão grave. Viva fosse minha mãe diria a ela o quanto
foi extremamente radical perante atitude tão infantil, daquelas artes que
muitos guris mundo afora também praticaram com sublime inocência. Mas a mulher
da latinha que tão bem resiste ao tempo, sendo hoje acho eu uma velha centenária,
reservou seus requintes de vingança sobre toda uma nação. Hoje o Brasil é um
país doce onde, por incrível que possa parecer, são homens com boa idade que
adoram dar uma chupadinha na famosa latinha da moça que não envelhece. Pelo
menos no rótulo.
- Pedro Brasil Júnior – 27/01/21
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