segunda-feira, 11 de abril de 2011

VICTOR BASS - VIVEU NA EUROPA SEM NUNCA TER ESTADO LÁ

A poesia e a música muitas vezes caminham de mãos dadas. Em algumas ocasiões, uma poesia se traduz numa canção suave que embala a alma e em outras, uma canção se traduz na mais pura poesia da imaginação de quem seja ou não um poeta. A chamada música orquestrada é a poesia sem uma escrita definida. Ela apenas se traduz pelo conjunto de notas eficientemente distribuídas de maneira a resultar numa espécie de toque de magia. E através de uma música sem letra, cada uma faz a sua própria escrita, deixando-se levar pelos sentimentos mais profundos e navegando assim pelos desconhecidos oceanos da natureza humana. A cada um o seu dom específico embora eu deva admitir que se não fosse um pouco poeta, gostaria de ser um pouco músico. O curioso é que para ambos os casos é preciso, na maioria das vezes se deixar levar pela inspiração até que o resultado final possa encher nosso coração com uma alegria indescritível. Se música e poesia às vezes caminham juntas, poetas e músicos também. Na passagem da vida esses encontros não são uma raridade e as amizades se fortalecem porque as idéias se transmutam em palavras e notas musicais. Mas os sonhos são praticamente os mesmos: mexer com a sensibilidade alheia! Lá se vão 35 anos desde que conheci um dentre vários músicos curitibanos, uma espécie rara, enraizada na sua terra e teimosos por natureza. Este músico em especial tinha uma vantagem entre a maioria: nos finais da programação da TV Paraná - Canal 6, lá no início dos anos 70, todos os dias era executada uma de suas músicas com diversas imagens bonitas que sinceramente, levavam muitas pessoas a aguardar o encerramento da programação para curtir aquele momento todo especial e assim, ir dormir banhado pela sutileza de uma música tocante e pela harmonia das imagens. A canção era “Atlântico Sul”, no melhor estilo de Paul Muriat. Quantos teriam tido sonhos esplêndidos através daquela experiência única? Até esse tempo, Victor Bass para mim era um desconhecido e pelo nome, deveria morar muito longe. Bastaram poucos anos para que de repente surgisse na minha frente, na antiga TV Iguaçu - Canal 4 aquele individuo que tentava conseguir ali o mesmo espaço, já que na TV Paraná, com a entrada da Rede Bandeirantes, o encerramento também tinha ido para o espaço. A tarefa não foi tão simples, mas logo, lá estava no encerramento do Canal 4 uma nova canção de Victor Bass: La Magie, que tinha imagens de um planador que evidentemente só poderia nos permitir a fazer altos vôos em nossos sonhos. A montagem foi feita por um colega chamado Eron. Pouco mais tarde, lá estava o Victor de novo e desta vez, fui eu quem ficou com a tarefa de reunir as imagens, todas extraídas de filmes de 16 milímetros e que em função da música (Lê Seigneur du Monde) também tinham várias cenas com aviões. A coisa não ficou por ai e ao longo do tempo, nossa amizade só foi crescendo e devo abrir um parêntesis aqui para agradecer o Victor Bass por toda a ajuda prestada por um longo período, que não há o que possa pagar, a não ser o meu reconhecimento. Pois bem, um belo dia ele apareceu todo empolgado, com a fita master de uma nova canção e não deu outra, corremos contra o tempo, selecionamos imagens e logo estava no ar o “novo clipe” do Victor Bass. Desta vez a música era “Le Dernier Hiver” e para encerrar esses bons tempos, ainda fizemos outro com a canção “Cordillieres”. A partir daí o encerramento das emissoras deixou de existir, salvo em pequenos períodos na madrugada quando o pessoal técnico aproveita para fazer manutenção. Em suma: as redes vieram e as pessoas deixaram de ir dormir mais cedo e com a cabeça tranqüila. Tudo se transforma e passa, mas as canções do Victor Bass por certo vão se eternizar. Ao longo dos anos em que fizemos aqueles clipes de final de noite, Victor sempre se mostrava entusiasmado, batalhando para produzir um novo disco e com muitos esforços acabava conseguindo ajuda e fazia circular um novo “bolachão” reunindo as suas melhores canções. Os discos traziam a inscrição “Grande Orquestra Victor Bass” e a maioria das pessoas achava se tratar de um maestro francês, já que naqueles tempos Paul Muriat era o mais famoso. Aliás, uma curiosidade: A canção “Lê Seigneur Du Monde” só ganhou esse título porque na mesma época Muriat lançara na Europa a canção “Lê Concorde”, uma homenagem aos famosos supersônicos franceses. Era para ser esse o titulo da canção de Victor e ele se viu obrigado a criar outro que acabou ficando dentro do estilo. Ser músico é uma aventura arriscada! Poucos conseguem chegar ao estrelato, ficar rico e poder se aposentar com tranqüilidade. Victor Bass sempre soube disso e passava a maior parte dos seus dias com os discos debaixo do braço vendendo um por um nas casas noturnas e nos bares da cidade. Em algumas ocasiões conseguiu colocar seus discos em lojas e supermercados, mas era no corpo a corpo que ele conseguia extrair os recursos de que precisava. Para quem não sabe, Victor Bass nasceu Moacir Vitor Taborda Ribas, num distante 17 de abril de 1941 na cidade paranaense de Rio Negro. Como se vê, Victor chega agora aos 70 anos de idade e é evidente que merece esta singela homenagem, mais um registro dos seus feitos, a maioria nunca reconhecidos. Como ele mesmo sempre disse: “Nossa terra não tem memória e seus ídolos são relegados ao esquecimento”. Mas tenha certeza meu caro Victor Bass de que seus verdadeiros amigos jamais o esquecerão. Como esquecer o músico, o poeta, o cara que tinha uma boa piada para contar e que no bolso do paletó guardava grandes sonhos? Como esquecer que você, em 1976 teve uma música composta para a novela Senhora, da Rede Globo e como esquecer ainda o seu LP “Paris, Eterna Primavera”, que foi um grande sucesso? Não se pode esquecer o amigo, o músico, o poeta e o sonhador. Pena que não temos mais o encerramento na televisão senão; pode ter certeza – a gente continuaria a oferecer aos “corujas” aqueles quase 4 minutos de boa música, lindas imagens e um nome a zelar: Victor Bass – o músico que viveu boa parte da vida na Barreirinha, enquanto a maioria, acreditava que ele vivia em algum lugar da Europa. Pode estar certo, ainda que em seus sonhos, viveu na Europa sem nunca ter estado lá! A última vez que conversei com o Victor já faz mais de um ano e ele andava arriscando a sorte, tentando de repente conseguir um espaço como aqueles de outrora. Eu confesso que fiquei duplamente triste. Primeiro por não poder lhe prestar aquela ajuda e depois, por ter percebido que o peso da idade já o deixara um tanto adoentado. Sei que às vezes ele se aventura numas passadas pela Boca Maldita, na Rua das Flores, por certo revendo amigos, revendo o coração da cidade que sempre amou e para a qual também compôs “Rue des Fleurs”. Daquela última vez em que falei com ele, Victor me entregou um CD reunindo as suas melhores ou mais famosas canções e um livreto com uma pequena biografia e algumas de suas poesias. E lá segue o grande Victor Bass, por certo, com sua inseparável pasta debaixo do braço onde carrega fragmentos de sua jornada, mostrando para alguns, recortes de jornais, poesias e, acima de tudo, mostrando que sempre esteve aqui, neste “pedacinho de Europa”, fazendo música, tecendo sonhos e deixando fluir a pura essência de suas poesias em dó, ré, mi pelas linhas mais misteriosas de suas já amareladas partituras. Para conhecer o trabalho de Victor Bass, baixe em MP3 duas de suas canções nos links a seguir:

2 comentários:

Anônimo disse...

quem quiser contatos com o artista entre em contato no face do mesmo
http://www.facebook.com/profile.php?id=100003143395832

Luiz Folmann disse...

Eu trabalhava na TV Paraná canal 6 1979/1981, fizeram um filme (Caminhos Contrários), eu o cartaz do filme e pessoas ligadas à sua produção e divulgação falavam a respeito proximos de mi.
O tema do filme era de Vitor Bass e foi usado na vinheta de encerramento da emissora época em que a Televisão encerrava as transmissões do dia por volta de meia noite e meia, 1 h das manhã sempre com um clip.
Todo artista merece respeito e Vitor Bass merece uma materia num jornal de porte como a Gazeta do Povo.