Vai longe o tempo das artimanhas da infância!
Fosse frio ou calor, a gente nem ligava. E olha que eram tempos de geadas violentas e ainda assim, nós aproveitávamos cada minuto de cada hora, transformando aqueles saudosos dias nos mais longos de nossas vidas.
Empurrávamos pneus velhos pelas ruas nos dias de chuva e me parece que aquela lama com as gotas frias se transformava num bálsamo para a alma.
Tínhamos inocência aguda, jogávamos bolinha de gude, brincávamos de forte apache ou então de mocinho e bandido, levando à cintura, muitas vezes, dois coldres com revólveres de cabo perolado cujas espoletas incomodavam os sensíveis ouvidos de senhoras idosas.
Do meu tempo, desconheço alguém que tenha virado bandido. Alguns amigos viraram sim, policiais!
Eu vivi com meus amigos o tempo brincando, o tempo bailando, o tempo na escola, o tempo das raias, das figurinhas do Zequinha e dos campeonatos fervorosos de jogo de botão. Sem não deixar escapar aquelas peladas de todas as tardes nos tantos campinhos que ao redor da gente existia. Às vezes um folguedo novo e lá iam todos até o ferreiro ou o marceneiro pedir uma ajudinha.
Raramente alguém da turma adoecia. Quando um não aparecia, era gripe ou resfriado apenas.
Eu recordo que minhas gripes e resfriados eram curados com os chás caseiros de minha mãe e o insuperável Codelasa, receitado pelo médico e muitas vezes pelo próprio farmacêutico de então.
Era infalível, apesar do gosto ruim. Tinha um Codelasa com conta gotas que enfiavam nas narinas da gente ou então, ia direto à garganta.
A embalagem era amarela com letras pretas e havia uma medalha de prêmio pela qualidade, eu acho, onde tinha a efígie de um homem que lembrava bem um imperador romano.
O tempo passou, a gente cresceu, o mundo mudou...
O Codelasa desapareceu e vieram outros medicamentos mais fortes, mais caros, mas também eficientes.
É só mais uma dessas lembranças da infância, que a maioria nem lembra mais, porque realmente recordar de doença e remédio é coisa para velhos.
Mas somos ou seremos o que?
O tempo não envelhece enquanto a gente cresce!
Ele segue menino arteiro enquanto o vento sopra as nuvens, enquanto os meninos empinam suas pipas, enquanto na distância de vilarejos humildes, poucos se dão conta de como o mundo anda.
Não sei se ainda existe por aqui o Codelasa, tão milagroso, tão eficiente. Sei que na Venezuela ainda o utilizam e com toda certeza, um dia lá na frente, alguns meninos vão também relembrar o gosto amargo, mais uma gripe curada e a certeza de que apesar do tempo e de suas artimanhas, a gente atravessou os caminhos para realizar nossas façanhas.
E então é isto; gostos amargos na maioria das vezes nos levam pela vida a saborear a doçura das frutas, o néctar que nos leva a voar e o inconfundível sabor de um beijo apaixonado. O resto é escrita de cada um!
Um comentário:
Oi!!!
Afff... nunca ouvi falar dessa medicação, ainda bem, pois pela descrição não devia ser mto bom, digo, pelo sabor,mais por outro lado devia ser bom para ajudar no bem estar das gripes e etc....
Bjusss
Postar um comentário