sexta-feira, 17 de setembro de 2010

REVIVENDO PINCELADAS DE KRØYER


Me pego diante de um entardecer preguiçoso observando através da janela a serra distante e límpida. Esqueço do tempo, das horas e das tarefas que me esperam e me permito embarcar numa dessas viagens tão rápidas que só a mente consegue proporcionar e regresso talvez em alguns poucos minutos.
A cena é única e rara nestes tempos em que muita gente ruma para o litoral e assim, deixam as praias constantemente abarrotadas, tanto de pessoas quanto de muito lixo.
Mas a minha cena é a praia vazia, deserta mesmo, por onde eu caminho nestas frações de segundos da mesma maneira que já o fiz por algumas vezes. Uma jornada ouvindo o quebrar das ondas, sentindo a brisa tocar o rosto e volta e meia deixar a visão vislumbrar a perfeição do vôo de uma gaivota.
Pronto! – Estou de volta a esta realidade de uma tarde em que o trabalho exige sua seqüência e onde me deixo reservar na mente mais uma dessas raras oportunidades na forma exata de um planejamento sem data marcada.
As horas galopam, as tarefas são concluídas e agora, me permito abrir os portais da Internet e viajar por ai, talvez na busca de algo novo, inusitado ou curioso.
Clico aqui e ali e de repente lembro de uma antiga canção do Walter Franco, lá dos anos 80 e decido procurar a letra para ver se ando cantando corretamente. A letra surge na tela e com ela vem de brinde um vídeo que me faz parar outra vez para imaginar “toda a beleza do mar”.
Assim, decido que vou “pendurar” a letra por aqui bem como o vídeo, mas é preciso uma imagem de um barco a vela, já que o titulo da canção de Cid e Walter Franco é “Vela Aberta” e vela aberta realmente incita em navegar por horizontes desconhecidos.
Clico outra vez aqui, ali e acolá e de repente deparo com uma pintura que me captura sem piedade. Abduzido pela cena fico com os olhos parados observando.
Quem seriam as duas damas passeando naquela praia?
O texto daquele portal todo em dinamarquês... E agora?
Ah! Lembrei das ferramentas de tradução do Google e não tive dúvidas, consegui levantar alguma coisa importante.
Tudo começou com meu olhar na serra, minha mente na praia, meus afazeres, a música do Walter Franco e agora, estou eu na Dinamarca, confuso naquela linguagem que me parece misturar inglês com alemão e por ai vai.
Mas nós, aventureiros do tempo, não podemos parar a jornada por causa de detalhes tão pequenos. A tela com as damas está aqui, diante dos meus olhos, com toda a sua história e a história do talento de mais um desses gênios da pintura que poucos já ouviram falar.
Pois bem; a obra intitula-se “Noite de Verão no Sul da Praia de Skagen” e o autor, Peder Severin Krøyer a pintou no já tão distante 1893.
Volto a minha pergunta: Quem seriam as duas damas da pintura?
Foi difícil confesso, mas descobri se tratar de Anna Ancher e Marie Krøyer, esposa do artista. Anna era esposa de um amigo de Peder, o também artista Michael Ankers.
Peder nasceu em 23 de julho de 1851 e viveu até 21 de novembro de 1909, período em que escreveu sua história sempre movido pela paixão. Isso o transformou num líder não oficial de um grupo de artistas dinamarqueses e de outros países nórdicos que viveram, trabalharam ou se encontravam na cidade de Skagen, na Dinamarca.
Conhecido como P.S. KrØyer, o artista fez muitos registros através de cenas de praias onde mostra tanto a vida recreativa dos banhistas como a vida dos pescadores. Muitos dos seus trabalhos integram a coleção permanente do Museu Skagens que é dedicado à comunidade de artistas, incluindo aqueles que se reuniram em torno de Krøyer.
Agora, aprecie você também a beleza da tela e se deixe levar por sua viagem particular, porque eu devo confessar que minha jornada por hoje foi gratificante, embora cansativa. Vou recompor as energias e ativar a mente. Logo, estarei navegando outra vez neste meu “barco a vela” que tem a capacidade de singrar os oceanos da alma.


- Pedro Brasil Jr -
Curitiba - 16/09/2010

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