terça-feira, 14 de abril de 2009

QUANDO A SUA RUA APARECER NA TELEVISÃO

Quando surgiu a televisão, muita gente achava que era o final derradeiro do cinema. O cinema, como sétima arte, seguiu firme, evoluindo ano após ano e atendendo ainda mais os anseios do grande público televisivo. Quando surgiu o Cd, muita gente achou que a fita cassete iria desaparecer do mercado do dia para a noite. As fitas continuam sua trajetória e os fabricantes de aparelhos de som, seguem produzindo modelos sofisticados que trazem consigo os decks para fitas devidamente instalados. Quando surgiram os primeiros computadores pessoais, muita gente imaginou que seria o final de toda a parafernália até então disponível no mercado. Em suma: tecnologias avançadas realmente transformam nossas vidas, facilitam o dia a dia em casa ou no trabalho e seguem apresentando novidades que realmente mexem muito com a nossa imaginação e com o nosso bolso também.
E voltando ao “quando”, lembremos da revolução das câmeras fotográficas digitais, que se espalharam pelo mundo trazendo a emoção da foto instantânea. As máquinas mecânicas não se entregaram e é claro, por uma questão de paixão, câmeras mecânicas, toca-discos de vinil, toca-fitas e outras coisitas mais dividem espaço dentro do nosso contexto social. O que dizer então sobre a televisão? Estamos nos aproximando da tevê digital, que vai revolucionar nossas vidas e que certamente levará grande parte das pessoas a um verdadeiro frenesi tecnológico. Mas ainda assim, é sabido que muita gente vai levar tempo para ingressar no mundo novo da televisão, assim como dos demais aparatos modernos que a tecnologia coloca diariamente à disposição de quem pode pagar para ver ou ouvir.
Lembrando disso tudo, me ocorreu a lembrança de que “quando” surgiram as primeiras máquinas para franquear correspondências, muita gente decretou o final do selo postal. E o selo quase foi para a guilhotina quando a Internet passou a facilitar nossa comunicação escrita com qualquer pessoa em qualquer parte do planeta. Os selos resistiram, para felicidade de todos nós, filatelistas ou simples admiradores. Melhor ainda; as cartas, embora tenham diminuído sua freqüência, ainda são tão usadas pelas pessoas quanto os tocadores de fitas cassetes ou mesmo, os aparelhos de videocassete que não se rendem à qualidade dos Dvds e, junto com estes, exibem em sua casa, o que o cinema faz de melhor. E a televisão, essa fantástica invenção que mudou nossas vidas durante o século 20, segue sua trajetória adentrando nossas casas sem pedir licença e escancarando as crueldades do mundo, a fragilidade das emoções, as gargalhadas com os palhaços que ainda insistem em erguer a lona do circo, o exibicionismo de gente como a gente que tenta ser mais gente, o sexo como marca de uma indústria que ignora a essência do homem, os esportes que preenchem nosso vazio nas tardes de um sábado ou domingo e a sutileza de estarmos frente a frente com o poder que deveria oferecer grandes exemplos mas que nos escancara a podridão e a maledicência tal como uma maçã, escondida no meio de belos exemplares que, em poucas horas estarão vestindo a mesma indumentária. Mas a televisão, que abre nossas portas sem chaves, é feita por nós e direcionada aos nossos diversos interesses e por ela e através dela, exaltamos o bem e o mal e colocamos nas mãos de quem quer que seja, a opção chamada “controle remoto”, que nos permite “zapear” as centenas de canais numa busca tão inconstante quando a felicidade que buscamos lá fora, todos os dias, num olhar, num gesto, numa atitude de alguém com a coragem suficiente para nos dizer que estamos remotamente controlados por um baú de idéias que nos fazem pensar, que felicidade é ser alto executivo ou presidente da empresa, possuir uma bela mansão com piscina e aquele carrão importado na garagem.
E enquanto a morte diverte-se mundo afora com sua dança macabra, ficamos nós, pasmos na frente da telinha, por alguns minutos apenas, porque a felicidade mora sempre ao lado e apesar da grande janela à nossa frente, apesar de toda a tecnologia, continuamos sim, aprisionados à rotina do cafezinho com o cigarro, do trânsito engarrafado, do consumismo desenfreado e da pressa em chegar a casa para ver na televisão o noticiário e ficar por dentro do que aconteceu durante o dia no mundo. Mas o que terá acontecido na rua onde você mora? ( Pedro Brasil Jr )

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